terça-feira, 13 de abril de 2010

O processo da mente




"A coisa mais difícil, quase impossível, para a mente, é permanecer no meio, é permanecer equilibrada. E o mais fácil é movimentar-se de um pensamento para o seu oposto. Movimentar-se de uma polaridade para a polaridade oposta é a natureza da mente. Isso tem que ser entendido muito profundamente, porque sem que você entenda isso, nada poderá levar você à meditação.

A natureza da mente é movimentar-se de um extremo a outro, ela depende do desequilíbrio. Se você estiver equilibrado, a mente desaparece. A mente é como uma doença: quando você está desequilibrado ela está ali, quando você está equilibrado ela não está ali.

É por isso que é fácil para uma pessoa que come muito fazer jejum. Isso parece sem lógica, porque nós pensamos que uma pessoa que é obcecada por comida não consegue jejuar. Mas você está errado. Somente uma pessoa que é obcecada por comida pode jejuar, porque jejuar é a mesma obsessão no sentido oposto. Na verdade não houve mudança em você. Você continua obcecado por comida. Antes você comia muito e agora você está faminto - mas o foco da mente continua na comida, a partir de um extremo oposto.

Um homem que tenha se entregue em demasia ao sexo, pode ser tornar um celibatário muito facilmente. Não há nenhum problema. Mas é difícil para a mente fazer uma dieta certa, é difícil para a mente estar no meio.

Porque é difícil estar no meio? Isso é exatamente igual ao pêndulo de um relógio. O pêndulo vai para a direita, e daí se move para a esquerda, então de novo para a direita, e depois de novo para a esquerda. O relógio inteiro depende desse movimento. Se o pêndulo parar no meio, o relógio pára. E quando o pêndulo se move para a direita, você pensa que ele está somente indo para a direita. Mas, ao mesmo tempo que ele está indo para a direita, ele está juntando momento* para ir para a esquerda. Quanto mais ele se move para a direita, mais energia ele reúne para se mover para a esquerda, para o oposto. Quando ele está se movendo para a esquerda ele está de novo reunindo momento para se mover para a direita.

Sempre que você come demais, você está reunindo momento para fazer jejum. Sempre que você se entrega em demasia ao sexo, mais cedo ou mais tarde, o celibato, o brahmacharya se tornará atraente para você.

E o mesmo está acontecendo a partir do pólo oposto. Vá e pergunte aos chamados sadhus, aos bhikkhus, aos sannyasins. Eles firmaram um propósito de permanecer celibatários; e agora a mente deles está reunindo momento para se movimentar em direção ao sexo. Eles firmaram um propósito de ficarem com fome, de passar fome e a mente deles está constantemente pensando em comida. Quando você está pensando muito a respeito de comida, isso mostra que você está reunindo momento para comer. Pensar significa momento. A mente começa fazer arranjos para ir ao oposto.

A primeira coisa: sempre que você se move, você também está se movendo para o oposto. O oposto está escondido, ele não é aparente.

Quando você ama uma pessoa, você está reunindo momento para odiá-la. É por isso que somente amigos podem se tornar inimigos. Você não pode se tornar um inimigo sem que primeiro você tenha se tornado um amigo. Amantes discutem e brigam. Só os amantes podem discutir e brigar, porque a não ser que você ame, como você poderá odiar?A não ser que você tenha se movido para a extrema esquerda, como você poderá se mover para a direita? Pesquisas modernas dizem que isso que se chama amor é um relacionamento de íntima inimizade. Sua esposa é a sua inimiga íntima e seu marido é o seu inimigo íntimo - ambos inimigos e íntimos. Parecem opostos, sem lógica, porque nós ficamos ponderando como alguém que é íntimo pode ser inimigo? Alguém que é amigo, como pode também ser o adversário?

A lógica é superficial. A vida vai mais fundo. Na vida, todos os opostos se juntam, eles existem juntos. Lembre-se disso, porque então meditação se torna equilíbrio.

Buda ensinou oito disciplinas e para cada disciplina ele usava a palavra certa. Ele dizia: o esforço certo, porque é muito fácil mover-se da ação para a inação, do despertar para o dormir, mas permanecer no meio é difícil. Quando Buda usa a palavra certa, ele estava dizendo: não se mova para o oposto, simplesmente permaneça no meio. A comida certa - ele nunca disse jejum. Não se entregue em demasia à comida e não se entregue ao jejum. Ele dizia: comida certa. Comida certa significa permanecer no meio.

Quando você permanece no meio você não está reunindo momento algum. E essa é a beleza disso: um homem que não está reunindo momento algum para se mover a qualquer lugar, pode estar à vontade consigo mesmo, pode se sentir em casa.

Você nunca pode se sentir em casa, porque qualquer coisa que você faz, imediatamente você terá que fazer o oposto para equilibrar. E o oposto nunca equilibra, ele simplesmente dá a você a impressão de que você está se tornando equilibrado, mas você terá que se mover para o oposto de novo.

Um buda não é amigo nem inimigo de alguém. Ele simplesmente parou no meio - o relógio não está funcionando... Quando a sua mente pára, o tempo pára, quando o pêndulo pára, o relógio pára...

O tempo é criado pelo movimento da mente, exatamente como o movimento do pêndulo. A mente se move, você sente o tempo. Quando a mente não está se movimentando, como você pode sentir o tempo? Quando não há qualquer movimento, o tempo não pode ser sentido. Cientistas e místicos concordam nesse ponto: que o movimento cria o fenômeno do tempo. Se você não está se movendo, se você está parado, o tempo desaparece, a eternidade chega à existência.

O seu relógio está se movendo rapidamente e o seu mecanismo é movimento de um extremo ao outro.

A segunda coisa a ser entendida a respeito da mente é que a mente sempre quer o que está distante, nunca o que está perto. O que está perto é enfadonho, você fica farto dele. O distante lhe dá sonhos, esperanças, possibilidades de prazer. Assim, a mente sempre está pensando no distante. É sempre a mulher de alguma outra pessoa que é atraente e bonita; é sempre a casa de alguma outra pessoa que o obceca; é sempre o carro de alguma outra pessoa que fascina você. É sempre o que está distante. Você fica cego para o que está perto. A mente não consegue ver aquilo que está muito perto. Ela somente pode ver aquilo que está muito longe.

E o que está muito longe, o que está mais distante? O que está mais distante é o oposto. Você ama uma pessoa - agora o fenômeno mais distante é o ódio. Você está comendo demais - agora o fenômeno mais distante é o jejum. Você está celibatário - agora o fenômeno mais distante é o sexo. Você é um rei - agora o fenômeno mais distante é ser um monge.

O que está mais distante é aquilo com que sonhamos mais. Ele atrai, ele obceca, ele segue chamando, convidando você e então, quando você tiver alcançado o outro pólo, este local de onde você partiu em caminhada se tornará belo novamente. Divorcie-se de sua esposa e após uns poucos anos ela terá ganho beleza novamente...

Para a mente, o oposto é magnético e a não ser que, através da compreensão, você transcenda isso, a mente continuará se movendo da esquerda para a direita, da direita para a esquerda, e o relógio continua. Ele tem continuado por muitas vidas e é assim que você tem sido enganado - porque você não compreende o mecanismo. De novo o distante se torna atraente e de novo você começa uma nova caminhada. E no momento em que você alcança o seu objetivo, aquilo que antes era seu conhecido e que agora está distante, de novo se torna atraente, agora se torna uma estrela, alguma coisa valiosa.

Eu estive lendo a respeito de um piloto que estava voando sobre a Califórnia com um amigo. Ele lhe disse: "Veja lá embaixo aquele belo lago. Eu nasci perto dele, ali está a minha vila". Ele apontou para uma pequena vila numa colina próxima ao lago. E ele disse: "Eu nasci ali e quando eu era criança eu costumava sentar próximo ao lago para pescar. Pescar era o meu hobby. Mas naquela época, quando eu era criança e pescava no lago, os aviões sempre costumavam cortar o céu, passando sobre a minha cabeça, e eu sonhava com o dia em que eu próprio me tornaria um piloto e estaria pilotando um avião. Aquele era meu único sonho. Agora ele está realizado e que miséria! Agora eu continuamente olho para aquele lago lá em baixo e fico pensando no dia em que eu estiver aposentado para poder ir pescar nele de novo. Aquele lago é tão lindo..."

É assim que as coisas acontecem. É assim que as coisas têm acontecido com você. Na infância você queria crescer depressa porque as pessoas mais velhas eram mais poderosas. Uma criança quer crescer imediatamente. As pessoas mais velhas são sábias e a criança sente que qualquer coisa que ela faça está sempre errado. Pergunte então a uma pessoa mais velha. Ela sempre acha que quando a infância se foi, tudo foi perdido, o paraíso estava ali, na infância. E todos os velhos morrem pensando na infância, na inocência, na beleza, no mundo de sonhos.

Qualquer coisa que você tenha, parece sem utilidade; qualquer coisa que você não tenha parece de grande utilidade. Lembre-se disso porque senão a meditação não poderá acontecer, porque meditação significa essa compreensão da mente, do trabalho da mente, do verdadeiro processo da mente.

A mente é dialética, ela faz com que você se mova repetidas vezes em direção aos opostos. E isso é um processo infinito, ele nunca se acaba, a não ser que você, de repente, o abandone, a não ser que, de repente, você se torne consciente do jogo, a não ser que, de repente, você se torne alerta a respeito da trapaça da mente, e você pare no meio.

Parar no meio é meditação.

A terceira coisa: porque a mente consiste em polaridades, você nunca é um todo. A mente não pode ser um todo, ela sempre é metade. Quando você ama alguém, você já observou que você está suprimindo o seu ódio? O amor não é total, ele não é um todo, exatamente atrás dele todas as forças escuras estão escondidas e elas podem entrar em erupção a qualquer momento. Você está sentado em cima de um vulcão.

Quando você ama alguém, você simplesmente se esquece de que você tem raiva, de que você tem ódio, de que você é ciumento. Você simplesmente deixa tudo isso de lado, como se isso nunca tivesse existido. Mas como você pode deixar tudo isso de lado? Você pode simplesmente esconder no inconsciente. Assim, na superfície você pode se tornar amoroso, mas lá no fundo o tumulto está escondido. Mais cedo ou mais tarde você vai ficar de saco cheio, o amado terá se tornado familiar.

Dizem que a familiaridade cria desprezo, mas não é que a familiaridade cria desprezo - a familiaridade faz você ficar de saco cheio. O desprezo esteve sempre ali, escondido. Ele vem à tona, ele só estava esperando o momento certo, a semente estava ali.

A mente sempre tem o oposto dentro dela e esse oposto vai para o inconsciente e fica ali esperando pelo seu momento para vir à tona. Se você observar minuciosamente, você sentirá isso a todo momento. Quando você diz para alguém "eu te amo" feche os seus olhos, seja meditativo, e sinta - existe algum ódio escondido? Você irá senti-lo. Mas você não quer encarar isso porque a verdade é muito feia - a verdade que você sente ódio pela pessoa que você ama - por isso você engana a si mesmo. Você quer escapar da realidade, assim você esconde. Mas, esconder não vai ajudar, porque assim você não está enganando à outra pessoa, você está enganando a si mesmo.

Assim, sempre que você sentir alguma coisa, feche os olhos e vá para dentro de si mesmo para encontrar o oposto em algum lugar. Ele está ali. E se você puder ver o oposto, isso dará a você um equilíbrio. Então você não irá dizer "eu amo você". Se você for uma pessoa verdadeira você irá dizer: "meu relacionamento com você é de amor e ódio".

Todos os relacionamentos são relacionamentos de amor/ódio. Nenhum relacionamento é puro amor e nenhum relacionamento é puro ódio. Ele é ambos: amor e ódio. Se você for verdadeiro você estará em dificuldades. Se você disser para uma garota: "meu relacionamento com você é ambos: amor e ódio. Eu amo você como nunca amei alguém e eu odeio você como nunca eu odiei alguém", será difícil para você se casar, a não ser que você encontre uma garota meditativa, que possa compreender a realidade, a não ser que você possa encontrar uma amiga que possa compreender a complexidade da mente.

A mente não é um mecanismo simples. Ela é muito complexa e através da mente você nunca pode se tornar simples, porque a mente segue criando enganos. Ser meditativo significa estar alerta para o fato de que a mente está escondendo alguma coisa de você, de que você está fechando os olhos para alguns fatos que estão perturbando. Mais cedo ou mais tarde aqueles fatos perturbadores virão à tona, vão se apoderar de você, e você irá em direção ao oposto. E o oposto não está lá longe, num lugar distante, em alguma estrela. O oposto está escondido atrás de você, dentro de você, em sua mente, no próprio funcionamento da mente. Se você puder compreender isso, você irá parar no meio.

Se você puder ver o eu amo e o eu odeio, de repente, ambos irão desaparecer, porque ambos não podem existir juntos na consciência. Você tem que criar uma barreira: um terá que existir no inconsciente e o outro no consciente. Ambos não podem existir na consciência, eles irão negar um ao outro. O amor destruirá o ódio, o ódio destruirá o amor, eles terão que equilibrar um ao outro e eles simplesmente irão desaparecer. A mesma quantidade de ódio e a mesma quantidade de amor irão negar um ao outro. De repente eles irão evaporar - você estará ali, mas nenhum amor e nenhum ódio. Então você estará equilibrado.

Quando você está equilibrado, a mente não está lá - então você é um todo. Quando você é um todo, você é sagrado, mas a mente não está lá. Assim, meditação é um estado de não-mente. Através da mente esse estado não é alcançado. Através da mente, qualquer coisa que você fizer, ele nunca será alcançado. Então, o que você está fazendo quando você está meditando?

Pelo fato de você ter criado tanta tensão em sua vida, você agora está meditando. Mas isso é o oposto da tensão, não a verdadeira meditação. Você está tão tenso que a meditação se tornou atraente. É por isso que no Ocidente a meditação atrai mais do que no Oriente. É porque no Ocidente existe mais tensão do que no Oriente. O Oriente ainda está relaxado, as pessoas não estão tão tensas, elas não estão se enlouquecendo tão facilmente, elas não cometem suicídio tão facilmente. Elas não são tão violentas, tão agressivas, tão apavoradas, tão amedrontadas - não, elas não estão tão tensas. Elas não estão vivendo essa correria louca onde nada além de tensão é acumulado.

Assim, se o Mahesh Yogi vier à Índia, ninguém o escutará. Mas na América, as pessoas ficam loucas com ele. Quando existe muita tensão, a meditação atrai. Mas essa atração é de novo a mesma armadilha. Isso não é verdadeira meditação, isso é de novo um engano. Você medita por uns poucos dias, você se torna relaxado e, quando você se torna relaxado, de novo surge a necessidade de atividades. Você fica de saco cheio e a mente começa a pensar em fazer alguma coisa, em se movimentar.

As pessoas chegam a mim e dizem: "nós meditamos por alguns anos mas agora isso ficou chato, perdeu a graça". Há poucos dias uma garota veio a mim e disse: "agora a meditação não tem mais graça alguma, o que eu devo fazer?"

Agora a mente está procurando por alguma outra coisa, agora ela já teve bastante meditação. Agora que ela já está relaxada, a mente está pedindo por mais tensões - alguma coisa que possa perturbá-la. Quando ela diz que agora a meditação não tem mais graça, ela quer dizer que agora não há mais tensão, assim como pode a meditação ter graça? Ela terá que ir atrás de tensões novamente, aí a meditação de novo se tornará algo valioso.

Veja o absurdo da mente: você tem que ir embora para chegar perto, você tem que se tornar tenso para ser meditativo. Mas isso não é meditação, de novo isso é uma trapaça da mesma mente. Numa nova dimensão, o mesmo jogo continua.

Quando eu digo meditação, eu quero dizer: ir além das polaridades opostas, deixar de lado todo o jogo, olhar para o absurdo disso e transcendê-lo. A própria compreensão se torna transcendência.

A mente forçará você a se mover para o oposto - não se mova para o oposto. Pare no meio e veja que isso tem sido sempre uma trapaça da mente. É assim que a mente tem dominado você - através do oposto. Você já percebeu isso?

Depois de fazer amor com uma mulher, você de repente começa a pensar em abstinência sexual, brahmacharya e isso exerce uma fascinação tão persuasiva que naquele momento você sente como se nada mais existisse para ser alcançado. Você se sente frustrado, enganado, você sente que não havia nada naquele sexo e que somente bramacharya contém a felicidade. Mas depois de vinte e quatro horas, o sexo de novo se torna importante, e de novo você se move para ele.

O que a mente está fazendo? Depois do ato sexual ela começa a pensar no oposto, o qual, de novo, cria a vontade do sexo.

Um homem violento começa a pensar na não-violência, então ele poderá facilmente se tornar violento de novo. Um homem que fica raivoso repetidamente, sempre pensa em não ter raiva, sempre decide não ficar raivoso novamente. Essa decisão ajuda-o a ficar com raiva de novo.

Se você realmente não quiser ficar raivoso de novo, não tome decisão contra a raiva. Simplesmente olhe para a raiva e olhe para essa sombra da raiva que você pensa que é não ter raiva. Olhe para o sexo e para essa sombra do sexo que você pensa que é brahmacharya, abstinência sexual. Isso é só negatividade, ausência. Olhe para o excesso do comer e para a sua sombra que é o jejum. Jejuns sempre seguem o comer demais, a indulgência demasiada é sempre seguida por votos de celibato; a tensão é sempre seguida por algumas técnicas de meditação. Olhe para essas coisas juntas, sinta como elas estão relacionadas, como elas são parte de um só processo.

Se você puder compreender isso, a meditação acontecerá em você. Na verdade, ela não é algo a ser feito, ela é uma questão de compreensão. Ela não é um esforço, ela não é algo a ser cultivado. Ela é algo a ser profundamente compreendido.

Compreensão dá liberdade. Conhecer todo o mecanismo da mente é transformação. Então, de repente, o relógio pára, o tempo desaparece. E parando o relógio, não existe mente. Parando o tempo, onde você está? O barco está vazio.

O homem do Tao age sem impedimentos.... Você age sempre com impedimentos, o oposto está sempre ali criando o impedimento, você não é um fluxo.

Se você ama, o ódio está sempre ali como um impedimento. Se você se movimenta, alguma coisa está puxando você para trás, você nunca se move totalmente, alguma coisa sempre fica para trás, o movimento não é total. Você se move com uma perna, mas a outra perna não se move. Como você pode se mover? O impedimento está ali.

A sua angústia, a sua ansiedade é esse impedimento, é essa contínua movimentação de uma metade e não movimentação da outra metade. Por que você está tão angustiado? O que cria tanta angústia em você? Qualquer coisa que você faz, porque você não fica feliz fazendo aquilo? A felicidade somente pode acontecer para o todo, nunca para a parte.

Quando o todo se movimenta sem qualquer impedimento, o próprio movimento é felicidade. Felicidade não é alguma coisa que vem de fora - ela é uma sensação que vem quando o seu Ser como um todo se movimenta, o próprio movimento do todo é felicidade. Não é alguma coisa acontecendo para você, ela surge a partir de você, ela é uma harmonia no seu Ser.

Se você está dividido - e você está sempre dividido: metade se movendo, metade segurando; metade dizendo sim, metade dizendo não; metade amando, metade odiando. Você é um reino dividido, existe um conflito constante dentro de você. Você diz alguma coisa mas aquilo nunca é o que você quer dizer, porque o oposto está ali impedindo, criando uma barreira...

A mente entra quando você está dividido. A mente se alimenta com a divisão. É por isso que Krishnamurti segue dizendo que quando o observador se torna o observado, você está em meditação...

Sempre que a mente entra, ela entra como uma força controladora, um administrador. Ela não é o mestre, ela é o administrador. E você não chega até o mestre se o administrador não for colocado de lado. O administrador não permite que você alcance o mestre, o administrador sempre se mantém de pé diante da porta, controlando. E todos os administradores administram mal - a mente tem feito um grande trabalho de má administração...

Lao Tzu disse: quando não havia nem um simples filósofo, tudo se resolvia, não haviam perguntas e todas as respostas estavam disponíveis. Quando os filósofos surgiram, as perguntas vieram e as respostas desapareceram. Sempre que há uma pergunta, a resposta está muito longe. Sempre que você pergunta, você nunca obtém a resposta, mas quando você pára de perguntar, você descobrirá que a resposta sempre esteve ali...

O que é felicidade? Felicidade é a sensação que surge em você quando o observador se torna o observado. Felicidade é a sensação que surge em você quando você está em harmonia, não fragmentado, uma unidade, não desintegrado, não dividido. Essa sensação não é algo que vem de fora. Ela é a melodia que cresce em você a partir da sua harmonia interior...

O sol está nascendo... de repente você olha e o observador não está ali. O sol não está ali e você não está ali. Não há nenhum observador e nenhum observado. Simplesmente o sol está nascendo e a sua mente não está ali para controlar. Você não vê e diz: "o sol está lindo". No momento que você disser, a felicidade foi perdida. Então já não existe nenhuma felicidade, ela já se tornou passado, ela já se foi.

De repente você vê o sol nascendo e aquele que vê não está ali, aquele que vê ainda não entrou, ainda não se tornou um pensamento. Você ainda não olhou, não analisou, ainda não observou. O sol está nascendo e ali não existe ninguém, o barco está vazio, existe felicidade, um vislumbre. Mas a mente imediatamente entra e diz "o sol está lindo, esse nascer do sol está lindo". A comparação entrou e a beleza foi perdida.

Aqueles que sabem, dizem que sempre que você diz: "eu te amo" para uma pessoa, o amor foi perdido. O amor se foi porque o amante entrou. Como pode existir amor quando a divisão, o controlador entra? É a mente que diz: "eu te amo", porque, na verdade, no amor não existe nenhum eu e nenhum tu. No amor não existem indivíduos. O amor é uma fusão, uma dissolução, eles não são dois.

O amor existe, não os amantes. No amor, o amor existe, não os amantes, mas a mente entra e diz: "eu estou amando, eu te amo". Quando o "eu" entra, a dúvida entra, a divisão entra e o amor não está mais ali.

Muitas vezes em meditação você tem alguns vislumbres. Lembre-se: sempre que você sentir tais vislumbres, não diga: "quão belo é", não diga "quão amoroso é", porque é assim que você perde o vislumbre. Sempre que o vislumbre vier, deixe que ele esteja ali...Quando em meditação você tiver um vislumbre de algum êxtase, deixe que ele aconteça, deixe-o ir fundo. Não divida a si mesmo. Não faça qualquer declaração, senão o contato será perdido. "

OSHO - The Empty Boat - discurso n. 2

Simplesmente isto




Questionador: Alguns professores dizem que não há nada que você possa fazer para se tornar iluminado ou despertar. Que não há escolha nem ninguém para escolher. Isso é verdade?

Mooji: Ao ouvir isso, qual foi a sua reação?

Q: Na verdade foi mista. Por um lado uma sensação profundamente libertadora, simples e natural, seguido de um sentimento de real frustração e raiva. Honestamente eu me senti bastante irritado e oprimido com a idéia de não ter o livre-arbítrio. Foi muito estranho.

M: E qual dessas duas reações ficaram mais fortes com você?

Q: Bem, como disse antes,inicialmente o sentimento de liberdade foi forte,belo e expansivo mas durou pouco, enquanto que a frustração, dúvida e confusão tém sido mais prolongados.

M: E estes sentimentos o trouxeram de novo ao Satsang, certo?

Q: Pode-se dizer que sim. Na verdade eu não sinto que tomei nenhuma decisão para vir aqui. Eu sinto que fui atraído por alguma força. Quando estou aqui contigo, tudo vai bem; suas palavras e sua presença me fazem sentir seguros nesta verdade. O problema começa quando estou lá fora no mundo. Daí eu duvido de mim mesmo. Me sinto fraco, sem foco e me falta essa convicção que estou sentindo agora. Eu necessito de ajuda.

M: Obrigado. 'Eu necessito de ajuda' é a frase chave aqui. É sábio buscar auxílio, até que você vá além da necessidade do auxílio. Não a arrogância que diz 'Não há' ningúem a ser ajudado, nenhum 'eu', nenhum 'você'. Ninguém existe, somente aquilo que É, que embora verdadeiro quando exaltado da boca do sábio, é completamente falso quando expressado da mente egóica! É o ego que se levanta através do intelecto bancando ser algum tipo de herói espiritual. Esta compreensão não pode ser enxertada numa mente ego-centrada porque a verdadeira compreensão dissolve o ego-buscador. Não há ninguém que sobre para reivindicar a liberdade como uma realização. A Unidade, o Um, apenas existe manifestando-se através e como a própria consciência. Ela expressa-se como o jogo cósmico. É a consciência se expressando no papel do humilde buscador que finalmente, através da graça, alcança a compreensão final, assim realizando-se como a Consciência Impessoal, o Ser. A sua busca por ajuda abre uma enchente de Graça que se manifesta na forma do 'professor', que é um reflexo do seu verdadeiro Ser, cuja autoridade e presença o assiste empurrando a mente externalizada para dentro de sua fonte, o coração, fazendo-o resultar na compreensão final. Esta graça provém do seu próprio Ser e é o seu Ser. Você ouviu o provérbio que diz : 'Nós somos chamados por nosso próprio Ser', e ainda tudo isto toma a forma como um mero teatro na consciência. O Absoluto, o Ser real de cada um, o Satguru dentro de nós, nem se beneficia nem sofre nenhuma alteração de maneira alguma, mas mantém-se como o inalterado substrato ou pano de fundo. Esta é a verdade.

Q: Há uma alegria outra vez em ser lembrado disto, talvez isso seja a atração do Satsang. Mas eu devo dizer que ainda estou um pouco confundido sobre...

M: Não! Pare aí mesmo. Na verdade, 'você', o que você realmente é, não pode estar confuso. Confusão é um estado mental. Não seria mais preciso dizer que você sente ou nota a confusão surgindo em você? E que ambos os sentimentos de confusão e conforto são percebidos por você, incluindo seus efeitos no corpo, assim como os pensamentos e julgamentos subsequentes, que acompanham tais sentimentos? E que estes são estados que vem e vão na presença de algum 'pano de fundo ' de inteligência impessoal ou testemunha natural ?

Q: Sim. Parece haver mais distância nesta forma de olhar. Sinto-me mais desapegado e espaçoso de alguma forma.

M: Vamos voltar à sua pergunta original ?

Q: Sim, mas eu gostaria que você falasse mais sobre esse ponto.

M: Ok. Ok, nós voltaremos se necessário. Na sentença: 'Não há nada que você ou ninguém possa fazer para ganhar a 'iluminação' ou o 'despertar'. Quem ou o quê é que ouve isto? E quem ou o quê é o 'você' na declaração ?

Q: Eu mesmo! O que Eu sou.

M: E o que é isso? (pausa...) Agora você está vestindo olhos pensativos. Não pense! Observe!

Q: Minha mente... Minha individualidade. Meu sentido de ser, eu suponho. Meu intelecto?

M: Não deve haver algo por detrás que vê a mente, a individualidade, o intelecto? De onde estas mesmas frases estão surgindo, e o que se mantém inafetado, intocado pelo funcionamento da mente, intelecto. Não estão estes fenômenos sendo observados? Você pode confirmar?

Q: Sim (assentindo lentamente), eu posso confirmá-lo como tal.

M: Deixando de lado qualquer fenômeno notável que esteja surgindo, volte a sua atenção para a própria observação. O que exatamente é isso que observa? É uma pessoa, uma coisa? Tem uma forma, característica ou qualidade? É pessoal?

Q: Não. Ningúem está lá. Nada.

M: Você está lá?

Q: Sim. Não. Eu devo estar. Eu estou nele.

M: O que vê ou sabe isso ?

Q: Eu não sei. Eu apenas sei; mas não sei como eu sei. Eu não sou nada aqui exatamente. Eu quero dizer sem forma. Lá vem aquele sentimento denovo. Isto foi o que eu senti, o que experienciei a última vez.

M: Não se aferre a este sentimento agora, deixe-o ser. Não vá ao passado, permaneça por detrás. Não se identifique, não toque. Apenas observe, mas mantenha-se neutro, de forma que se e quando este sentimento de alegria desvanecer-se, restará apenas este observar. Você não pode 'ter' ou se 'tornar' isso. Nenhuma posse, nenhuma realização, apenas pensamentos e sensações surgindo espontaneamente na consciência e sendo percebidos. Você percebe ?

Q: Mas eu não quero que isso vá. Para que afast­á-lo? Eu quero permanecer neste estado sempre. Não é esse o ponto ?

M: Isto é precisamente o que você deve fazer. Se isso não estava aqui antes, não é permanente, e pertence ao que é mutável. Passará. Deixe-o ir e vir, isto é natural e isso é a própria liberdade. Reconheça que o 'Eu não quero que isso vá embora' é também um sentimento-pensamento surgindo, sendo observado por algo que está além das idas e vindas. Seja Um com isso. Não persiga nada, permaneça como consciência neutra apenas. Isso é tudo. O que pode a consciência querer? O que falta? O que há para se manter ou perder?

Q: Minha mente deu branco. Me desculpa, poderia repetir ?

M: O que está testemunhando o 'branco'?

Q: (pausa...) Eu estou. Aqui outra vez!

M: E denovo, quem ou o quê é você aqui?

Q: Apenas isso. Não há palavras que possam dar a entender ou descrever isso. Nada, Vazio.

M: Há alguma tristeza?

Q: Não.

M: Feliz?

Q: Não.

M: Livre?

Q: Não. Eu nem usaria a palavra 'livre' (pausa). Sem palavras...

M: Aha! Muito bom! Parabéns! Aquilo é isto! Isto é tudo, você terminou, Excelente! O exercício terminou. Agora pise fora disto e retorne ao seu estado prévio para que nós possamos continuar com as suas perguntas importantes.

Q: Mmmm... Isto é impossivel ! Já não faz mais sentido nenhum. Pisar fora e ir aonde?

M: Aqui!

Q: Não há nem sequer aqui!

M: Realmente? E o Agora?

Q: Não, nem Agora (longa pausa...). Eu agora vejo claramente que estes são apenas conceitos. Não há dúvida a respeito disso, O Indescritível está por detrás.

M: Isto apenas é liberdade, além de qualquer conceito de liberdade. O natural e supremo estado do Ser verdadeiro de cada um. (O questionador parece ter deslizado num estado meditativo, a sua face é imóvel mas tranquila... Mooji sorri...)

M: Eu queria falar a respeito do que acontece quando esta experiência de 'iluminação' se desvanece, mas agora é impossível discutir isso com ele enquanto ele estiver em samadhi. (Gargalhadas..)

Outro questionador: Eu também já experienciei este estado em que ele parece estar agora, um tipo de experiência da não-experiência, que durou mais ou menos três ou quatro semanas. Eu me senti totalmente vazio, limpo, presente, uno com tudo que É. Tudo apenas acontecendo por si só, era realmente indescritível e belo, mas depois de um tempo minha mente voltou. No meu caso, eu penso que voltou ainda mais forte que antes. Na verdade eu entrei num tipo de depressão pesada e me senti perdido por um tempo. Eu tive medo de repetir aquela experiência.

M: Que experiência?

Q: A experiência louca. ( Gargalhada...)

M: O verdadeiro Ser é o imutável pano de fundo suportando o mundo transitório dos fenômenos. É somente Consciência impessoal; imutável e bem-aventurosa. No estado experiencial, brilha como o puro sentido da consciência subjetiva 'Eu sou'. Este 'Eu sou' é impessoal e sinônimo de consciência – o campo da percepção. É a expressão direta da pura subjetividade. Sri Nisargadatta Maharaj, o grande sábio, descreve como sendo uma porta que se move de um lado para a manifestação e do outro ao infinito. Isto expressa-o belamente. Todos eventos ocorrem como movimentos na consciência, e são percebidos dentro e através desta consciente presença 'Eu sou'; esta é a 'testemunha', o ou princípio que testemunha, que nós somos, enquanto o corpo está aqui.

Q: Então nós somos o corpo, estamos no corpo, ou somos algo separado? Porque... (O questionador começou a se lembrar de algumas experiências e observações...)

M: Deixe isto tudo de lado por agora; apenas esteja aberto, permitindo tudo o que tem sido dito simplesmente ser ouvido na consciência sem se apegar à nenhum pensamento em particular ou idéia do tipo: "o que fazer com isso que está sendo ouvido". Permita que o 'escutar' apenas 'aconteça', assim como seria. Você está aí, por detrás da mente que escuta. Preste atenção ao pensamento 'Eu' -- ele não é o verdadeiro 'Eu sou'. Ele vem quando o 'Eu sou' impessoal se identifica com o corpo, que é meramente o instrumento através do qual Ele está se expressando, com o auxílio da força vital – o poder animador. Essa associação faz surgir o ego, ou a individualidade: o sentido de 'eu'. Então você percebe que o sentido de individualidade não pode existir sem a sustentação da consciência impessoal, mas que ele é a própria expressão transitória desta consciência criativa. Somente agora Ela opera como consciência condicionada, acreditando ser o corpo-mente. Surge agora o conhecimento do 'Outro' e um impulso básico de proteger-Se; preferências e desgostos surgem, juntamente com julgamentos, medos, desejos, apegos e o jogo inteiro dos opostos inter-relacionados. Nós como seres individuais somos fascinados e viciados por experienciar, o que em si é natural e não há nada de errado nisso, quando visto como o jogo ou a expressão da consciência manifesta que somos. Mas quando visto da perspectiva da identidade individual, com sua agenda privada – Problemão! ( gargalhada .. )



Agora escute: não há nada em particular para se 'fazer' aqui, nem ninguém para fazer ou desfazer também. Apenas uma mudança na compreensão deve acontecer e tudo se ajusta de maneira correta. Tudo é Um. Vamos pegar o exemplo da antena telescópica do carro: há uma unidade, e isto representa o Absoluto. Estenda ou puxe uma vez – o 'Eu sou' impessoal aparece; ainda sim é uma unidade. Puxe de novo e o pensamento do 'Eu individual' brota, e simultâneamente a manifestação do mundo personalizado vem à tona. Como as bonecas russas, uma dentro da outra, sucessivamente, no entanto um Inteiro! Uma unidade expressando-Se como manifesta e imanifesta, dois aspectos da Realidade única. Tal é o jogo no teatro da consciência. Você é a testemunha final, Feliz, inafetado e inteiro. Você é Aquele! Não é nada pessoal, isto não é um elogio que estou te fazendo.

Q: Por favor, você poderia repetir o ponto sobre o 'teatro da consciência'?

M: Não! Eu não posso repetir. Por agora esteja atento, aberto e presente - mas neutro aqui, sem permitir que sua atenção vagueie ou pouse em nenhuma coisa particular. Esta é a posição que estou te convidando a tomar. Confie em sua audição intuitiva. É a sua mente que, aparecendo como um buscador vigilante, se esforça por exatidão e então fica presa com o sentimento de ter perdido algo vital. Neste momento é uma sutil forma de resistência ou de evitar. Meu conselho é: se você perder (não compreender) algo, simplesmente deixe-o ir. Tudo está bem por agora. O verdadeiro você está aqui e por detrás de tudo, observando sem esforço. O sentido de 'perder' ou 'encontrar' surge, é sentido - mas descartado como 'não real': nem isto nem aquilo, 'neti-neti', como os jnanis dizem. Você, como consciência, não é nenhum sentimento em particular. Pensamentos e sentimentos vem e vão como ondas brincando na superfície do oceano. Deixe tudo vir e ir por si só, isto é natural para as ondas. Oceano, água, ondas – tudo o mesmo. Permaneça como a testemunha apenas. Para a consciência, nada é perdido ou achado, ou é bom ou mal. É o imaculado substrato no qual a sombra mente/mundo de nomes e formas dançam sua aparente existência.

Q: Mas, Mooji, seguramente a vigilância é importante ter a certeza de que compreendemos corretamente, para evitar mal-entendidos; especialmente porque tudo isso é novo para mim, e também muitas escrituras e professores apontam para a vigilância com uma qualidade ou virtude necessária para o crescimento espiritual.

M: Isto é verdade se realmente existe 'alguém' que fará uso desta compreensão. Mas se você realmente investigar, este 'alguém', a 'pessoa', o indivíduo, não será encontrado! Tudo é apenas consciência – o 'você', o 'eu', o falar, o escutar, satsang, todos aqui, tudo - tudo consciência; esta é a maravilhosa descoberta! A Consciência conversando com a consciência sobre consciência através da consciência. Quão simples! No entanto quão inexplicável quando buscado através da mente-ego. Olhe, eu te mostro onde você está agora mesmo, então permaneça com Isso, nada mais. Mas a sua mente pousou em algum ponto que lhe interessa. Enquanto você estiver engajado em prender-se a isso, você perde todo o resto – isto é chamado o jogo de 'maya' (A ilusão cósmica). É como ler um livro sobre frutas exóticas e reggae enquanto passeia pelo mercado de Brixton! ( risadas...). Um mestre Zen chamado Bankei certa vez disse: 'É como um homem que perde sua espada caída do navio no mar, e marca o ponto no caminho das águas onde caiu.' (Gargalhadas...)

Q: Justamente agora que você disse isso, tudo parou. Eu não posso pensar. Não há pensamentos. (Levando sua mão a sua boca) Isso é maravilhoso !

M: O que está vendo tudo isso ?

Q: Nada... Eu.

M: 'Eu' - nada, testemunhando a mente parada. Quando a mente está parada, ainda pode ser chamada mente? ( Pausa...)

M: E agora ?

Q: Silêncio e paz.

M: Para quem?

Q: Aqui... Para mim.

M: Pra você? Você tem certeza? O que, onde e como está 'você' exatamente nisso?

Q: Não eu; apenas silêncio e profunda paz e um sentimento real de gratidão. Está certo?

M: Você me diz.

Q: Sim. Gratidão por escutar e ver isso tão claramente. Obrigado.

M: Seja Bem-Vindo. Ser agradecendo o Ser. Muito Bom!

Tudo o que você vê é você mesmo



Seu ser não é algo novo. Não é uma nova explosão de discernimento, clareza e revelação mística. Não há absolutamente nada de novo em relação ao seu ser. Ele é você mesmo. Não é o seu "verdadeiro eu", não é o seu "eu superior". Não é o seu "eu divino", nem o seu Eu com maiúscula. Simplesmente você mesmo. O objetivo da investigação oferecida por Ramana Maharshi é essa presença constante que é tão ubíqua, imóvel e permanente que passa despercebida pela mente, a qual é atraída pelo movimento de objetos brilhantes como pensamentos, emoções, idéias e estados emocionais (bons e ruins). Todos vão e vêm, vivem, mudam e existem em você, que é esta simples presença. A simples presença da qual não se pode escapar, a qual não se pode descartar, a qual não vai e vem, e que é precisamente isto que você chama de eu.

Ramana nos aconselha a manter a nossa atenção no eu e não nos preocuparmos com todas as histórias a respeito disso. Não nos preocuparmos com todos os sutras, mantras, Upanixades, expressões, poesia, hinos e tudo mais. Ele nos aconselha a não desperdiçar este tempo precioso prestando atenção em todos os pensamentos sobre nosso ser e, ao invés disso, manter nossa atenção somente em nosso ser. A coisa notável sobre o convite de Ramana é que o ser no qual ele sugere que mantenhamos a nossa atenção não é algo superior. O ser no qual ele nos instrui a concentrar a nossa atenção é precisamente o que chamamos de ego. Ele é a totalidade da presença que é você. É exatamente a isso que se refere a palavra "eu".

"Ego" é uma palavra latina que significa "eu". É só isso que ela significa: "eu". Esta palavra foi incutida pela fascinação peculiarmente americana pela psicanálise e psiquiatria em geral. Ela foi maculada por uma espécie de essência mística. Mas significa apenas "eu". Exatamente o que você é. É tudo que você é. E este "eu", que é você, é a presença na qual a minha voz aparece e desaparece, na qual estados de despertar, realização, êxtase e consciência oceânica vão e vêm. A presença na qual estados de confusão, depressão, remorso, melancolia, horror e terror vão e vêm. Esta presença que nunca mudou, que está sempre presente, da qual não se pode escapar. Todos os nossos esforços para manter a nossa atenção fixa neste monte de lixo que é a mente são realmente esforços para escapar dessa presença.

A sugestão de Ramana é que você mantenha a sua atenção em seu ser, em você mesmo, e esqueça tudo que sabe sobre coisas espirituais. Este é o primeiro pré-requisito. Você tem que esquecer tudo; tem que jogar tudo fora. Tudo. Em seguida, você tem que voltar a sua atenção para dentro, e provar esta sensação de "mim mesmo"que está inescapavelmente presente. O objetivo disto é romper com o transe da identificação equivocada. O objetivo disto é experimentar conscientemente o sabor que você tem. Quando você entender, quando você perceber, quando você tiver a experiência consciente, por um segundo que seja, do que é o seu ser, você saberá, final e irreversivelmente, que tudo que você vê é você mesmo.

Siga a sua Natureza




"Veja o falso como falso,
o verdadeiro como verdadeiro.
Olhe para o seu coração.
Siga a sua natureza."
(Buda)



"Esta é uma das mais belas declarações: 'Olhe para o seu coração. Siga a sua natureza'.

Buda não está dizendo 'siga as escrituras'. Ele não está dizendo 'siga-me'. Ele não está dizendo 'siga certas regras de conduta'. Ele não está ensinando a você qualquer moralidade. Ele não está tentando criar um certo caráter em você, porque todo caráter é uma bela cela de uma prisão. Ele não está dando a você um certo caminho para viver. Ao invés disso, ele está lhe dando coragem para seguir a sua própria natureza. Ele quer que você seja corajoso o bastante para ouvir o seu próprio coração e seguir de acordo com ele.

'Siga a sua natureza' quer dizer: flua com você mesmo. Você é a escritura... e escondido lá no fundo de você ainda está uma pequena voz. Se você se tornar silencioso, você será guiado por ela.

O Mestre tem apenas que tornar você consciente de seu Mestre interior. Aí a sua função estará completa. Aí ele poderá deixar você consigo mesmo, ele poderá mandar você de volta para você mesmo. A proposta de um Mestre não é escravizar um discípulo, a proposta de um Mestre é libertá-lo, é lhe dar total liberdade. E essa é a única possibilidade de se atingir a liberdade total: 'Siga a sua natureza'.

Por 'natureza', Buda quer dizer Dhamma. Assim como é da natureza da água fluir para baixo e é da natureza do fogo se expandir para o alto, assim existe uma certa natureza escondida dentro de você. Se todos os condicionamentos que foram impostos a você pela sociedade forem removidos, de repente você irá descobrir a sua natureza.

A sua natureza é tornar-se Deus. Ais Dhammo sanantano - essa é a lei eterna e inesgotável: sua natureza é tornar-se Deus.

O homem é um Deus em potencial, um bodhisattva. O significado do homem é tornar-se Deus. Menos do que isso não irá satisfazer você, menos do que isso não terá utilidade. Você pode ter todo o dinheiro do mundo, todo o poder, todo o prestígio possível, e ainda assim você permanecerá vazio.A não ser que a sua natureza divina floresça, abra os seus botões, a não ser que você se torne um lótus, mil pétalas de lótus, a não ser que a sua divindade seja revelada a você, você nunca estará satisfeito.Ao homem religioso comum é dito para que permaneça satisfeito e contente, em qualquer que seja a situação. Os chamados santos religiosos seguem ensinando às pessoas: 'fique satisfeito'. A satisfação é um de seus ensinamentos fundamentais. Esse não é o caminho dos verdadeiros Mestres.

O Mestre verdadeiro cria o descontentamento em você, um tal descontentamento que nada neste mundo poderá satisfazê-lo. Ele cria um tal anseio em você, que a não ser que você alcance o máximo, você irá permanecer sem fogo, sem chama. Ele cria dor em seu coração, ele cria angústia...porque a vida está escorregando a todo momento, e cada momento que se foi, se foi para sempre, e você ainda não alcançou Deus e mais um dia já se passou.

Ele cria um tal anseio profundo em você, uma tal dor em seu coração! Ele cria lágrimas em seus olhos, porque somente através desse divino descontentamento, você irá se mover, você dará o salto quântico, o salto maior em direção ao desconhecido. Somente através desse divino descontentamento é que você reunirá todas as suas energias e se arriscará, indo até a aventura maior que é descobrir quem você é.

Siga a sua própria natureza. A sua natureza é a consciência. Mas os padres disseram a você: siga certas regras de conduta, os Dez Mandamentos, siga certos princípios, não a sua natureza. Os padres têm muito medo da sua natureza, porque se você seguir a sua natureza você irá sair de seu controle, você não será mais um escravo. Você não irá mais às igrejas, aos templos e aos mosteiros, e você não irá mais ouvir seus estúpidos padres, políticos, os chamados líderes. Eu digo que eles são os 'chamados líderes' porque o que na verdade está acontecendo é que pessoas cegas estão guiando pessoas cegas.

Se você ouvir à sua própria natureza, você não irá ouvi-los mais. Se você conhecer a sua própria voz interior, você se tornará livre. Então, a sua voz interior tem que ser esmagada, destruída, completamente destruída, ou pelo menos distorcida de tal maneira que mesmo se você ouvi-la, você não poderá entendê-la. E eles têm sido bem sucedidos. A não ser que você lute arduamente contra eles, não haverá possibilidade de sucesso. A exploração deles é tão velha, a opressão deles é tão antiga, as estratégias deles são tão espertas... e eles têm um poder infinito em suas mãos. E quem é você individualmente contra eles?

Mas se você for para dentro, se você ouvir o seu coração, você irá alcançar um tal poder que nenhum poder na Terra poderá escravizá-lo de novo.

Siga a sua natureza. Mas como seguir a sua natureza, se você não sabe o que ela é? E não lhe é permitido saber o que ela é! Você recebeu instruções precisas sobre o que fazer: o que comer, quando levantar-se de manhã, quando ir para a cama...Você recebeu instruções precisas. Aquelas instruções, se seguidas, fazem de você um escravo. Se não seguidas, fazem de você um criminoso. Se seguidas, você se torna um santo, mas um escravo. As pessoas irão adorá-lo, respeitá-lo, mas todo esse respeito é um entendimento mútuo: 'Se você seguir as nossas instruções, nós respeitaremos você. Se você não seguir, você irá para a prisão.'

Ou você se tornará espiritualmente um escravo ou fisicamente um prisioneiro: essas são as duas alternativas que a sociedade dá a você. E isso nunca permite a você se tornar consciente de que existe dentro de você uma fonte de infinita orientação e direcionamento. E é de lá que Deus fala.

Deus ainda fala, ele não parou de falar. Ele não é parcial. Não é que ele tenha falado a Maomé e a Moisés e que ele não fala a você. Ele está falando a você tanto quanto ele falou para Maomé. A única diferença é que Maomé estava pronto para ouvi-lo e você não está pronto para ouvi-lo. Maomé estava disponível e você não está disponível.

Tornar-se disponível à sua própria natureza interior é o que eu chamo de meditação.

Lembre-se dessas duas palavras. O caráter é uma invenção dos políticos e dos padres, é uma conspiração contra você. A consciência é a sua natureza. Sim, o homem de consciência tem um certo caráter, mas esse caráter segue a sua natureza. Não lhe foi imposto por alguém, esse caráter é a sua própria decisão. E ele não está preso a esse caráter, ele está totalmente livre para mudá-lo a qualquer momento. As circunstâncias mudam, a sua consciência lhe dá diferentes direções e ele muda o seu caráter.

O homem de caráter, o 'chamado homem de caráter', está preso. Mesmo se as circunstâncias mudarem ele segue repetindo o mesmo caráter, mesmo que não seja mais relevante, mesmo que não seja mais adequado. O contexto no qual ele tinha um significado desapareceu, mas ele segue repetindo as mesmas tolices. Ele é como um papagaio. Ele é uma máquina: ele não responde, ele simplesmente reage.

Um homem de consciência responde e suas respostas são espontâneas. Ele é como um espelho. Ele reflete tudo aquilo que se confronta com ele. E a partir dessa espontaneidade, a partir dessa consciência, um novo tipo de ação surge. Essa ação nunca cria qualquer escravidão, qualquer carma. Essa ação liberta você. Você alcança a liberdade se você ouvir a sua natureza.

Mas esse simples conselho parece ser muito difícil para as pessoas. Ele deveria ser a coisa mais simples do mundo. Cada criança nasce seguindo sua natureza, mas na medida em que você cresce, pouco a pouco você vai perdendo o contato com ela. Você é forçado a perder o contato com ela. O contato pode ser recuperado, ele pode ser redescoberto. Anos mais tarde, quando você tiver se tornado uma pessoa culta, preso dentro de um certo caráter, completamente cego para com seu coração e sua natureza, você começa a formular muitas perguntas.

Outro dia, o Prem Vijen perguntou: Osho, o que você quer dizer quando você diz Vá para dentro?'

Uma declaração tão simples, 'Vá para dentro', e você me pergunta 'o que eu quero dizer com ela?' Você não consegue entender estas simples palavras, 'vá para dentro'? Eu sei que você conhece as palavras, mas ir para dentro tornou-se muito difícil porque você só aprendeu como ir para fora. Você só pode ir para fora, você só sabe como ir, se for para fora.A sua consciência está voltada para os outros, ela esqueceu o caminho para ela mesma. Você segue batendo na porta dos outros e sempre que é dito a você, 'vá para casa' você diz: ' Osho, o que você quer dizer com ir para casa?' Você só conhece as casas dos outros, você não conhece o seu próprio lar. E você está carregando esse lar dentro de você. Você foi forçado a ser extrovertido. Você tem que aprender de novo o caminho de ir para dentro.

Soren Kierkegaard disse: 'Religião significa ir para dentro', ir para a sua própria interioridade. Mas as simples palavras 'ir para dentro' tornaram-se tão difíceis de entender. A mente conhece apenas como ir para fora, e nela não há qualquer marcha a ré....

Eu estou ensinando a você aqui que a marcha a ré está aí, embutida, você apenas se esqueceu dela. Você sabe como ir para fora. Ninguém pergunta 'O que você quer dizer quando diz 'vá para fora'?'. Mas todo mundo quer perguntar 'O que você quer dizer quando diz 'vá para dentro'?'. Simples palavras!

Pensar é ir para fora e não pensar é ir para dentro. Pense e você já começou a se mover para fora de si mesmo. O pensamento é a maneira de levar você para longe. O pensamento é um projeto. Não-pensamento... e de repente você está dentro. Sem pensamento você não pode ir para fora, sem desejo você não pode ir para fora. Você precisa do combustível do desejo e do veículo do pensamento para ir para fora.

Sentando-se silenciosamente, nada fazendo... nem mesmo pensando, nem mesmo desejando... e onde você estará?

Ir para dentro não é verdadeiramente ir para dentro. É simplesmente parar de ir para fora... e de repente você encontra a si mesmo dentro.

Prem Vijen, você não precisa ir para dentro porque se você for, você irá sempre para fora. Ir significa ir para fora. Pare de ir! Pare de ir a qualquer lugar! Você consegue sentar-se silenciosamente sem ir a qualquer lugar? Sim, fisicamente você pode sentar-se, isso não é muito difícil. Você pode aprender uma postura de yoga e você pode fazer de seu corpo quase uma estátua, mas o problema é: o que você está fazendo do lado de dentro? Desejos, pensamentos, memórias, imaginação, todos os tipos de projetos? Pare com eles também.

Como parar com eles? Simplesmente torne-se indiferente a eles, despreocupado. Mesmo que eles estejam ali, não dê atenção a eles. Mesmo que eles estejam ali, não lhes dê qualquer importância. Mesmo que eles estejam ali, deixe-os estar. Sente-se silenciosamente do lado de dentro, observando. Lembre-se dessa palavra: observando, testemunhando, simplesmente estando alerta.

E na medida em que esse observar cresce, se torna mais profundo, a mesma energia que estava se tornando desejos, pensamentos, memórias e imaginação, essa mesma energia é absorvida em nova profundidade. A mesma energia é usada por esse aprofundamento interno. E você saberá o que quero dizer quando digo 'Vá para dentro'.

Não comece a procurar nos dicionários ou na Enciclopédia Britânica. Não é uma questão de palavras. Palavras são simples para compreender. Quando eu digo 'Vá para dentro', é isso exatamente o que eu quero dizer: vá para dentro! Não comece a perguntar sobre as palavras. Escute a mensagem oculta, senão você irá perder o trem. O que eu quero dizer com 'perder o trem'?..........

Se você se tornar muito interessado em palavras, 'O que quer dizer com ir para dentro? O que isso quer dizer...?' Verbalmente, lingüisticamente, Vijen, você vai perder o trem. Não desperdice tempo com palavras!

E essa é particularmente uma nova espécie de doença que tem atingido os intelectuais do mundo. Pelo menos por cinqüenta anos, o mundo filosófico tem se tornado muitíssimo interessado em palavras e análises lingüísticas. Eles não perguntam mais o que é Deus. Eles não perguntam mais se Deus existe ou não. Os filósofos contemporâneos perguntam, 'O que quer dizer quando você usa a palavra Deus?' A questão não é se Deus existe ou não. A questão não é o que é Deus. A questão não é como se alcança Deus. Agora a questão tomou uma nova direção: 'O que você quer dizer quando você usa a palavra Deus?' O que você quer dizer quando você usa a palavra rosa? Essa questão é mais fácil. Você pode pegar o filósofo, forçá-lo a ir até o jardim e mostrar a ele a rosa. 'Isso é o que eu quero dizer quando eu uso a palavra rosa'. Mas isso não pode ser feito com a palavra Deus, isso não pode ser feito com a palavra meditação, isso não pode ser feito com as palavras 'vá para dentro'. Estes são fenômenos sutis. Não se torne um interessado em lingüística. Eu não estou aqui para ensinar análise lingüística a você.

Toda a minha abordagem é existencial. Se você realmente quer saber o que significa ir para dentro, então vá para dentro! E o caminho é: observe os seus pensamentos e não se identifique com eles. Simplesmente permaneça um observador, completamente indiferente, nem contra nem a favor. Não julgue, porque qualquer julgamento traz identificação. Não diga, 'Estes pensamentos são errados' e não diga, 'Estes pensamentos são bons'. Não faça comentários sobre os pensamentos. Deixe que eles passem como se eles fossem apenas a passagem do tráfego e você está de pé ali ao lado da rodovia despreocupado, olhando o tráfego. Não interessa o que está passando, um ônibus, um caminhão ou uma bicicleta. Se você puder observar o processo de pensamentos de sua mente com tal despreocupação, com tal desapego, não estará longe o dia em que todo o tráfego desaparece... porque o tráfego somente pode existir se você seguir dando energia para ele. Se você parar de dar energia para ele... E isso é o observar: parar de dar energia para isso, parar a energia que se move dentro do tráfego. É a sua energia que faz aqueles pensamentos se moverem. Quando a sua energia não os está alimentando, eles começam a cair, eles não conseguem se manter em pé por si mesmos.

E quando a rodovia da mente estiver completamente vazia, você está dentro. Isso é o que eu quero dizer, Vijen, quando eu digo 'Vá para dentro'. E isso é o que Buda quer dizer quando ele diz: 'Siga a sua natureza'."


OSHO - The Book of the Books - Volume I - Discourse n. 3
(tradução: Bodhi Champak)

A ARTE DE ESTAR COM O OUTRO




"A pessoa que não é capaz de estar com os outros,
de relacionar-se,
achará muito difícil relacionar-se consigo mesma,
porque a arte de relacionar-se é a mesma.
Seja relacionar-se com os outros ou consigo mesmo,
não faz muita diferença: é a mesma arte.

Essas artes têm que ser aprendidas juntas,
simultaneamente;
elas são inseparáveis.

Esteja com as pessoas,
não inconscientemente,
mas bem conscientemente.
Relacione-se com as pessoas
como se você estivesse cantando uma canção,
como se você estivesse tocando numa flauta;
cada pessoa precisa ser pensada como um instrumento musical.
Respeite-as, ame-as e adore-as,
porque cada pessoa é uma face oculta do divino.

Portanto seja bem cuidadoso,
bem atento.
Lembre-se do que você está dizendo;
lembre-se do que você está fazendo.
Pequenas coisas bastam para destruir relacionamentos,
e pequenas coisas tornam relacionamentos tão belos.
Às vezes basta um sorriso,
e o coração do outro se abre para você;
às vezes basta um olhar errado em seus olhos,
e o outro se fecha -
é um fenômeno delicado.

Pense nisso como uma arte:
assim como o pintor é muito vigilante
do que ele está fazendo na tela,
cada simples traço irá fazer muita diferença.
Um pintor verdadeiro pode mudar toda a pintura
apenas com um simples traço.

A vida tem que ser aprendida como uma arte:
muito cuidadosamente,
bem deliberadamente.

Assim, o relacionamento com os outros
precisa se tornar um espelho:
veja o que você está fazendo,
como você está fazendo isso e o que está acontecendo.
Que está acontecendo ao outro?
Você está tornando a vida dele mais miserável?
Você está provocando sofrimento nele?
Você está criando um inferno para ele?
Então retire-se.
Mude suas maneiras.
Embeleze a vida ao seu redor.

Deixe que cada pessoa sinta
que o encontro com você é uma dádiva:
apenas por estar com você algo começa a fluir, a crescer,
algumas canções começam a surgir no coração,
algumas flores começam a se abrir.

E quando você estiver sozinho,
então sente-se totalmente em silêncio,
absolutamente em silêncio,
e observe a si mesmo.

Assim como o pássaro tem duas asas,
deixe amor e meditação serem suas duas asas.
Crie uma sincronicidade entre eles,
assim eles não estarão de maneira alguma
em conflito um com o outro,
mas cuidando um do outro,
alimentando um ao outro,
auxiliando um ao outro.
Esse vai ser o seu caminho:
a síntese entre amor e meditação."

- OSHO -

NÃO-FAZER



A mente é uma fazedora. A mente constantemente quer estar ocupada. Um grande desejo de permanecer atarefada, isto é a mente. A pessoa não consegue se sentar só; não consegue se sentar em passiva receptividade, nem mesmo por uns poucos momentos. Isto é uma grande tortura para a mente, porque no momento em que você pára de fazer, a mente começa a desaparecer.

Osho

Não se Julgue



A primeira coisa é esta: não se julgue. Aceite humildemente sua imperfeição, seus fracassos, seus erros, suas faltas. Não há nenhuma necessidade de fingir outra coisa. Seja você mesmo: “É assim mesmo que eu sou, cheio de medo. Eu não posso andar na noite escura, não posso ir lá na densa floresta.”. O que há de errado nisso? - é humano.
Uma vez que você se aceite, você será capaz de aceitar os outros, porque você terá um clara visão interior de que eles estão sofrendo da mesma doença. E a sua aceitação deles, os ajudará a aceitarem-se.
Nós podemos reverter todo o processo: aceite-se. Isso o torna capaz de aceitar os outros. E porque alguém os aceita, eles aprendem a beleza da aceitação pela primeira vez - quanta tranqülidade se sente! - e eles começam a aceitar os outros.
Se a humanidade inteira chegar ao ponto onde todo mundo é aceito como é, quase noventa por cento da infelicidade simplesmente desaparecerá - ela não tem fundamentos - e os seus corações se abrirão por conta própria e o seu amor estará fluindo.
Neste exato momento, como você pode amar? Quando você vê tantos erros, tantas fraquezas... - como você pode amar? Você quer alguém perfeito. Ninguém é perfeito, assim, você tem de aceitar um estado de não-amor, ou aceitar que não importa se alguém não é perfeito. O amor pode ser compartilhado, compartilhado com todas as espécies de pessoas. Não faça exigências.
O julgamento é feio - ele fere as pessoas. Por um lado, você vai machucando, ferindo-as; e por outro lado, você quer o amor delas, seu respeito. Isso é impossível.
Ame-as, aceite-as e, talvez, seu amor e respeito possa ajudá-las a mudar muitas de suas fraquezas, muitas de suas falhas - porque o amor lhes dará uma nova energia, um novo significado, uma nova força. O amor lhes dará novas raízes para se erguerem contra os ventos fortes, um sol quente, a chuva forte.
Se apenas uma única pessoa o ama, isso o faz tão forte, que você nem pode imaginar. Mas, se ninguém o ama neste vasto mundo, você fica simplesmente isolado; então, você pensa que é livre, mas você está vivendo numa cela isolada em uma cadeia. É que a cela isolada é invisível; você a carrega consigo.
O coração abrirá por si mesmo. Não se preocupe com o coração. Faça o trabalho preparatório.




OSHO

Energia Pura




1. A Fonte de tudo é Energia Pura. O que todos sempre chamaram Deus nada mais é que um princípio cósmico de onde tudo flui, e para onde tudo retorna. Um vazio criativo. Uma consciência única.


2. Da Energia Pura aparecem corpos para ela poder viver conscientemente milhões e milhões de experiências na forma e no espaço. Nasce a criação. A criação é uma aparência da consciência. Eu e você somos uma aparência da consciência. Nós somos intrumentos da consciência divina. Mas o intelecto tem idéias que impedem o livre fluir da energia humana. Eis o sofrimento.


3. Você é Energia Pura que tomou a forma de um corpo humano NA TERCEIRA DIMENSÃO.


4. O cérebro humano recebe esta Energia Pura e a transforma em pensamentos, o que chamamos a consciência pessoal de uma pessoa. É o que torna uma pessoa singular e única. Esta consciência pessoal (que chamamos de Mente), inclui o temperamento, o jeito, o caráter da pessoa, e é formada pelo contato do cérebro humano com a Energia Pura ou Consciência Pura.


5. O cérebro decodifica a Energia Pura em forma de pensamentos e energia vital.


6. Desse modo o ser humano imagina que pensa. Mas o tempo inteiro a realidade é que ele é pensado junto com a vida, ele é simplesmente a vida, o ser humano não está separado da vida, porque não há ninguém separado da vida. A vida é tudo que há. Não há um ser separado da vida e de todas as coisas que estamos conscientes. Tudo é consciência divina.


7. Não somos os pensadores e nem os fazedores. É a Energia Pura que existe como real. O resto são imagens, são fenômenos que acontecem no tempo e no espaço.


8. Se você não pode controlar os pensamentos, é porque você não é os pensamentos. Pensamentos bons e mais acontecem a você, acontecem á consciência, mas não tem poder algum se você não lhes der poder.


9. Pensamentos acontecem, logo, ações também acontecem.


10. Se os pensamentos não são controlados por você, então tudo está acontecendo pela rede da vida, e você é apenas um observador. Nenhum pensamento tem poder. Pensamento + você pensando e acreditando, isso sim, tem poder. O pensamento não tem poder. Quem tem poder é você. Consciência é poder. Consciência é tudo que há.


11. O silêncio é a presença da ausência. Quando você é nenhuma coisa, essa coisa que você não é aparenta ser maravilhosa e a única coisa que o preenche.


Naseeb

Além do Espiritual



O vazio, na sua profunda compreensão, não se trata de um estado separado, mas a realidade de TODOS os estados...Ele não é algo específico além de todos os estados físicos, mentais ou emocionais, causais, mas, a peculiaridade que está e permeia TODOS os estados, superior ou inferior, sagrado ou profano, extraordinário ou comum, feio ou bonito, certo ou errado. Todas as formas sutis contém esta essência ou realidade última nela.

Não-dualidade é isto: O que está aqui-agora!
Esta compreensão é além do causal-espiritual...Não há tempo para ser isto, não há tempo para conseguir isto, porque isto está AQUI. É um dar-se conta. É uma realização!



Com amor,
Swami Sambodh Naseeb

Prece do EU SOU




Invoco agora a minha mais pura presença divina consciente: EU SOU
Onde todo o mal não existe
Onde toda a beleza, sabedoria, compaixão e fé
Correspondem exatamente ao que EU SOU.

Invoco agora toda a verdade do meu Ser verdadeiro: EU SOU
Onde todos os problemas inexistem
E são vistos como meras ilusões passageiras na consciência EU SOU.
Respouso assim na minha morada eterna e perfeita
Onde posso observar além do bem e do mal
Onde posso discernir com clareza o caminho que me leva ao amor
Porque SOU o amor, SOU a verdade, SOU o próprio caminho.

Invoco agora a lembrança de que SOU todas a experiências da vida,
Mas também, estou além de todas as experiências como uma Testemunha.

EU SOU tudo aquilo que penso
Mas quando não penso em nada, ou não me envolvo nos meus pensamentos
sou a pureza da consciência EU SOU:
Silenciosa, amorosa, dotada de natureza transcendental e pura sabedoria.

Invoco agora que meus dias prossigam na lembrança profunda de quem EU SOU
Que meus passos sejam guiados por esta fé inabalável
A fé de que nada pode acontecer a meu EU PROFUNDO
Porque em essência estou além de todo o movimento do mundo.

Que o amor, a sabedoria, a paz, a bondade, o serviço ao próximo,
e a amizade espiritual com toda a criatura viva,
seja minha maneira natural de Ser
Porque em verdade
É a natureza real e natural de Ser do EU DIVINO QUE SOU.

Obrigado à Presença Divina Consciente que EU SOU
Por me lembrar mais uma vez da minha natureza divina inerente
Que sabe separar a verdade da ilusão
E sempre descança em paz onde mora a justiça, a harmonia, a graça e a lucidez.
Esta morada é em mim mesmo.
Na Presença Consciente EU SOU.

Sambodh Naseeb

Silêncio




Estou confuso! Esses ensinamentos me confundem. O que posso fazer?

Quem é você? O que há por trás dessa confusão?? Quem está testemunhando confusão? O que existe agora nesse momento que está notando confusão? Isso que está notando confusão está notando clareza também, em outros momentos. O que é isso? O que é esta atenção que percebe e nota clareza e confusão? Se há alternancia entre clareza e confusão ao longo dos dias, quem está testemunhando isso? Há algo que está notando isso acontecer. Este algo não está nem confuso e nem claro. Esdte algo é você! Você não pertence ao corpo e nem a mente, que estão o tempo inteiro no tempo e no espaço a notar e experienciar confusão e clareza. Esta clareza de VER quem você é está além da clareza e da confusão de sua mente. Aquilo que você é, em Presença, está notando a mente pensar e passar por mil experiências. Meditação é voltar-se para dentro. e dentro é um lugar que não existe para sua mente, porque tudo que está na mente está fora. Dentro é um não-lugar onde a paz é sempre a anfitriã.

Sambodh Naseeb

O Amor é DEUS




"Jesus diz: Deus é amor. Mas eu digo a vocês: o amor é Deus. 'Amor' é uma palavra muito mais importante do que a palavra 'Deus'. 'Amor' tem um significado existencial. A palavra 'Deus' é completamente vazia, ela nada significa, ela não se relaciona a coisa alguma dentro de você. Ela é uma pura palavra, pura no sentido de que ela não tem qualquer realidade correspondente dentro de sua experiência.

Embora ambas as palavras indiquem a mesma verdade, 'amor' é a palavra dos poetas enquanto 'Deus' é a palavra dos teólogos. Mas, obviamente o insight poético é mais intenso, mais profundo e a sensibilidade do poeta é também muito mais refinada, muito mais sutil que a dos teólogos. A visão do poeta é também mais estética, mais bela, mais primorosa; ela tem mais graça, mais sentido, mais significância. Além disso, a escolha dos teólogos tem sido contaminada ao longo das eras por tantas pessoas: hindus, cristãos, muçulmanos; por tantas igrejas; por tantas religiões, as quais fingiam ser religiosas, mas não eram.

Amor ainda permanece sem contaminação; ele ainda é virgem.

Assim, deixe-me repetir: em vez de dizer Deus é amor, diga amor é Deus, e você estará mais próximo da verdade. E não apenas mais próximo, você imediatamente estará ligado à verdade, porque o amor é uma experiência sua. Ele pode não ser tão profundo ao ponto de ser tornar Deus, mas ainda assim, ouro é ouro, mesmo que não seja refinado. O diamante é diamante mesmo que não tenha sido lapidado e polido. O diamante pode estar perdido no meio da lama, mas, a qualquer momento, ele pode ser limpo, a lama não consegue entrar dentro do seu ser.

O amor é o seu ser. E no momento em que usamos a palavra 'Deus', grandes controvérsias se levantam. Use a palavra 'amor', e ficam descartados: teísmo, ateísmo e todo tipo de argumentos desnecessários.

O amor também representa o centro mais interno da própria existência. A existência não é indiferente a você, ela não é distanciada. Ela está envolvida com você, ela cuida de você. Ela pode não cuidar do jeito como você queria ser cuidado, mas ainda assim, ela cuida da maneira que lhe é própria. E a sua expectativa pode não ser verdadeiramente a sua necessidade; pode ser exatamente o oposto.

A existência de fato preenche as suas necessidades, não o que você gosta e desgosta, não o que você quer; mas as suas necessidades reais, verdadeiras e autênticas são sempre cuidadas. A existência não pode ser indiferente a você: você é parte dela. Ser indiferente a você significaria ser indiferente a ela mesma, o que é impossível. A existência já teria desaparecido há muito tempo, se fosse assim.

Nós somos as suas ondas. Nós somos as flores dessa árvore de vida e existência. O seu desejo de ser amado e o seu desejo de amar é o seu desejo mais supremo. Ele mostra algo da sua natureza básica fundamental, ele representa o seu centro mais interno, ele representa isso.

Uma vez que você entenda o amor como Deus, toda a sua visão da vida irá mudar. Então você não irá venerar num templo ou numa igreja ou numa mesquita: então o amor será a sua veneração. E então você não terá medo da existência, porque ela cuida de você. O medo desaparecerá. Você não terá medo nem mesmo da morte, porque a morte só pode levar aquilo que não é mais necessário, mas ela não pode destruir você.

A existência é a sua mãe, ela não pode permitir destruição. Nada é destruído, jamais. Agora, mesmo os físicos concordam com isso: nada é destruído em tempo algum e nada é criado. Nem mesmo um pequeno grão de areia pode ser destruído ou criado. A existência contém a mesma quantidade de matéria, vida, amor e energia que sempre conteve e que sempre conterá.

Martinho Lutero disse uma coisa tremendamente significante. Ele disse 'Pecca fortiter: peque audaciosamente'. É estranho. A declaração parece ser inacreditável: um homem como Martinho Lutero dizendo 'Peque audaciosamente'. Mas realmente vale a pena refletir a respeito do seu significado. Ele está dizendo: o amor permeia toda a existência, assim não tenha medo. Mesmo se você estiver em pecado, seja audacioso nele, porque a existência está sempre pronta para perdoar, está perdoando.O amor sempre é perdão. Ele não quer dizer que você deve pecar. Ele está simplesmente dizendo: o seu pecado é nada comparado ao perdão que flui da existência para você.

Há poucos dias, alguém me perguntou: 'Eu sou um grande pecador. Como posso perceber Deus?'

Você não consegue ser esse grande pecador. Você não consegue estar tão caído que as mãos de Deus não possam alcançar você. Você não consegue estar tão pesado e sobrecarregado pelos pecados que Deus não possa levantar você. O peso dos pecados não pode ser maior que a graça de Deus.

Esse é um dos fundamentos do sufismo, que Deus é perdão incondicional. Ele tem que ser, pois a sua natureza é o amor. O amor é a sua realidade. A questão não é se o amor perdoa. O amor é perdão. Não existe a questão de Deus perdoar você. A questão surgiria apenas se Deus estivesse com raiva de você. Só então a questão de perdoar surgiria. Mas Deus não pode estar com raiva de você. Você é do jeito que ele o fez. Você não é uma criação sua. Como ele pode ficar com raiva de você? Isso equivaleria a estar com raiva dele mesmo, o que seria uma auto condenação.

Mas você começa a pensar a respeito de coisas pequenas como se você estivesse cometendo grandes pecados. O ego sempre adora fazer grandes coisas. Mesmo se você estiver fazendo algo errado, você vai querer fazer com que seja o maior erro que jamais foi feito ou que jamais será feito. Você quer que ele seja único, incomparável; você quer que ele esteja no topo. O ego sempre se sente bem se algo grandioso está sendo feito. Pode ser um pecado, não importa.

Que grande pecado você consegue cometer? Todos os nossos pecados nada são, a não ser coisas pequenas. Nós somos pequenos, nossos pecados não podem ser grandes. Nossas mãos são pequenas: o que quer que façamos irá permanecer pequeno, porque levará a nossa assinatura.

A sua vida, virtuosa ou malvada, não será uma barreira nem uma ponte, porque você já está conectado e não existe jeito de desconectá-lo de Deus. E não é uma questão de que quando você peca, Deus o perdoa. Ele é perdão: ele está continuamente fluindo em tremendo amor para você.

O amor dele é como uma enchente e os seus pecados são como gotas d'água. A enchente irá levá-las. E a enchente não vem para levar os seus pecados embora, ela já está aí. Entender isso, compreender esse ponto, é um grande alívio, como se uma montanha de repente desaparecesse, aliviando o seu peito. Você se torna leve, sem peso. E somente em tal estado de leveza você pode venerar.

O pecador não pode venerar, ele está continuamente assustado. O medo não pode criar prece. A prece criada pelo medo permanece política, uma estratégia da mente para persuadir Deus; é um tipo de suborno. A verdadeira prece surge da compreensão, do amor.

Lutero está realmente certo quando diz: 'Peca fortiter: peque audaciosamente'. Qualquer coisa que você estiver fazendo, faça-o audaciosamente. Você pertence a Deus e Deus pertence a você. Este é o seu lar. Não viva como um estranho, não esteja aqui como um hóspede, você é parte do anfitrião. Viva sem medo.

Lutero está certo quando diz: 'Pecca fortiter: peque audaciosamente', porque o seu perdão é imenso, é infinito. E o que você fizer serão apenas pequenas gotas d'água: a enchente virá e as levará embora.

O sufismo é o caminho da graça. Nenhum esforço é preciso de sua parte: apenas receptividade, abertura, um coração amoroso, um estado de entrega, um relaxamento. E tudo aquilo que os chamados yogues não conseguem alcançar em milhões de vidas, você alcança num simples instante. Seu perdão vem tão rápido, ele é imediato, porque Deus conhece apenas um tempo: o agora. Deus não pode adiar, ele não tem futuro. Ele não pode dizer 'Amanhã', porque para ele não existe amanhã. O tempo significa este tempo, este momento.

Para Deus tudo é o presente. A nossa visão é limitada e por isso alguma coisa é passado, alguma coisa é futuro e alguma coisa é presente. A nossa visão é tão limitada que o nosso presente é muito estreito. Essa é a proporção de nossa visão. Nós estamos olhando para a realidade através de um buraco de fechadura: nós só conseguimos ver esse tanto, tudo o mais é passado.

Sente-se atrás de um buraco de fechadura e observe. Alguém vem: você vê de repente uma pessoa surgindo do nada. Há um momento, você não era capaz de vê-lo. Quando ele vem à frente do buraco de fechadura, você o vê, e, no momento seguinte, ele já se foi, ele passou, de novo ele não está mais lá. Num momento atrás ele estava no futuro, num momento depois ele está no passado.

Você pensa que o homem desapareceu? Você pensa que o homem de repente apareceu do nada e que agora ele desapareceu no nada novamente, e que ele apareceu somente por um simples momento? É a nossa visão que está criando o engano. Saia de seu lugar escondido, abra a porta e você ficará surpreso: ele estava lá antes de você vê-lo e ele está lá depois que você o viu. Agora você terá uma visão melhor.

Para Deus tudo é eterno agora.

O ladrão que foi crucificado ao lado de Jesus, perguntou-lhe: 'Senhor, eu serei capaz de vê-lo novamente no futuro?' Jesus disse: 'Hoje você me verá no reino de meu Deus'. A palavra é 'hoje' e isso é muito significante. 'Hoje você me verá no reino de meu Deus'. O amanhã está fora de questão. Deus é imediato. Deus está sempre presente. Assim, tudo o que acontece através de Deus, acontece agora. E isso não está acontecendo para você, Deus não está acontecendo para você, porque você vive ou no passado ou no futuro, e ele nunca está no passado nem no futuro.

Daí a ciência da meditação: ela traz você para o presente, ela traz você para este momento. O passado é um pensamento e ele desaparece quando os pensamentos desaparecem. O futuro também é um pensamento e ele desaparece quando você abandona o pensar. Quando você está num estado de não-pensamento, não existe passado algum, nem futuro, apenas o presente existe. Em tal estado de não-pensamento você é um, em sintonia com Deus. De repente a enchente está ali e você é inundado com luz, com amor e com graça. Você não é mais um homem, você é divino. Você superou a humanidade.

Humanidade é um estado de sono profundo.

Deus é o nosso pastor. Ele cuida de tudo. Nós estamos preocupados desnecessariamente, e começamos a tentar tomar conta de nós mesmos. E é assim que nos tornamos vítimas do lobo, a mente.

A mente diz: esse caminho é mais seguro, mais prudente. Organize a vida dentro deste padrão, não viva na insegurança. Essa é a constante mensagem da mente. 'Não viva na insegurança, torne a vida segura. Tenha uma conta bancária, tenha uma família, tenha os pés no chão. Faça tantos arranjos quanto possíveis, assim você estará protegido.'

Deus é o nosso protetor, mas a mente começa a atuar como protetora. E a mente é o lobo, porque ela é criada por todo tipo de exploradores que existem no mundo. Os padres, os eruditos e os políticos criam a mente, criam o medo em você. Eles vivem do seu medo, eles criam uma constante tremedeira; por toda a sua vida você permanece angustiado, tremendo, com medo. Eles criam preocupação em você e a preocupação é a fonte de sua mente.

Se a pessoa estiver pronta para viver na insegurança, a mente desaparece. Aí não existe necessidade de mente.

Sânias significa viver na insegurança, porque Deus é a nossa única segurança. Sânias significa viver sem qualquer medo, porque nós somos parte da existência. Não há de que se ter medo. A existência não é antagônica a nós; ela nos protege.

Mas a mente é um subproduto do medo e por causa do medo ela segue criando sua própria segurança: tenha mais dinheiro, tenha uma casa maior, tenha respeito, prestígio, poder político. Conquiste amigos e influencie pessoas, assim você estará seguro. Tenha muitos amigos, eles serão úteis. É dito que um amigo é amigo somente quando ele o socorre nos tempos de necessidade. Assim, tenha muitos amigos, faça concessões. Tenha uma face falsa, sorria, assim você poderá influenciar pessoas.

Você coloca a sua segurança em coisas muito frágeis. E Deus é a sua única segurança. Mas para conhecer a segurança de Deus, para saber que ele é o seu pastor, você terá que confiar, terá que viver na insegurança. Se você não puder confiar, você seguirá acumulando lixo ao seu redor.

Basta olhar as pessoas. Quanto mais ricas elas se tornam, mais infelizes elas parecem. Isso não deveria ser assim. E por que é assim? Isso é tão sem lógica. Por que elas se tornam tão infelizes? Parece que elas não sabem como viver na confiança, elas não sabem como viver na alegria. Toda a vida delas tem sido trabalhar para ficar mais e mais seguras. E não é muito difícil acumular muita riqueza. Mas ao mesmo tempo em que você vai acumulando muita riqueza, a sua vida vai escorrendo pelo bueiro. Então, de repente, a pessoa percebe: 'O que eu tenho feito? Eu desperdicei a minha vida.'

Surge uma grande frustração com a percepção de que 'eu desperdicei a minha vida, acumulando coisas desnecessárias, e agora todos aqueles belos dias se foram e somente a morte existe no futuro'. A pessoa sente que fracassou tremendamente.

É dito que nada é tão bem sucedido como o sucesso, mas eu digo nada fracassa tanto como o sucesso. No momento em que você é bem sucedido, você conhecerá o sabor do fracasso completo.

A mensagem Sufi é: Entregue tudo para Deus, entregue tudo para o todo. E veja: essa existência infinita segue perfeitamente. A energia que cuida de milhões de estrelas também pode cuidar de você. Você não precisa carregar esse fardo na sua cabeça, você pode confiar. E basta algumas poucas experiências de confiança e então você nunca mais será pego na velha armadilha de novo, porque você irá saber que as coisas estão sendo bem cuidadas.

Você terá que criar um tipo diferente de espaço. Um espaço diferente será necessário. Tal espaço se chama confiança, entrega, relaxamento, fé, amor, ou como quer que você queira chamá-lo. Uma vez que esse espaço seja criado, você começa a se movimentar num plano totalmente diferente. Você entra numa nova dimensão: é a dimensão sem morte, é a dimensão sem medo. E então você viverá totalmente, audaciosamente, e qualquer coisa que você faça, você estará totalmente nela, completamente nela. Cada ato se tornará um caso de paixão e muito criativo, não apenas nas coisas que você cria do lado de fora, mas em alguma coisa que integra você também internamente."


OSHO -