quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Biografia de Sri Ramana Maharshi






(1879-1950)

Sri Ramana Maharshi nasceu em 30 de Dezembro de 1879 em Tiruchuzhi, numa cidade da província de Tamil Nadu, ao sul da Índia. Os seus pais deram-lhe o nome de Venkataraman.

Nada havia de anormal neste rapaz. Possuía um corpo forte, destacava-se no futebol, artes marciais, natação, entre outros desportos. O único factor incomum a respeito de Venkataraman era o seu sono profundo, inabalável, e a sua assombrosa força física. Seu sono era tão profundo que em certas ocasiões os seus colegas – que jamais tinham a oportunidade de vencê-lo num combate – aproveitavam-se de seu estado para carregá-lo para fora da sua cama, dar-lhe porrada, e então “devolvê-lo” ao seu quarto, sem que Venkataraman jamais suspeitasse do ocorrido.



Este rapaz não manifestava nenhum interesse pela espiritualidade, meditação ou religião. Os seus únicos contactos com assuntos espirituais foi uma vez quando ouviu falar da montanha sagrada de Arunachala – o que lhe despertou profunda reverência e interesse – e outra quando teve a oportunidade de ler o Periyapuranam, que é uma colecção de biografias de 63 santos seita Saiva (adoradores de Shiva) da religião hindu. Entretanto, quando tinha 16 anos de idade, em Julho de 1896, teve uma experiência que transformou a sua vida para sempre. Ele mesmo a descreve:



“Foi mais ou menos seis semanas antes de deixar Madurai permanentemente que a grande mudança ocorreu na minha vida. Aconteceu inesperadamente. Eu estava sentado sozinho numa sala do primeiro andar da casa do meu tio. Eu raramente adoecia, e naquele dia a minha saúde estava normal, mas repentinamente fui tomado por um violento medo de morrer. Nada no meu estado de saúde explicava isto, e eu não tentei justificar esse medo, nem procurei as suas causas. Eu apenas senti ‘Vou morrer’ e comecei a pensar o que fazer a respeito disso. Não pensei em consultar um médico, os meus parentes ou meus amigos; eu senti que precisava de resolver o problema por mim próprio, ali mesmo.

O choque do medo da morte fez a minha mente voltar-se para o interior, e eu disse a mim mesmo, sem na verdade moldar em palavras:


‘Agora a morte chegou; o que isto significa? O que está a morrer? O corpo morre.’


Então imediatamente comecei a dramatizar a ocorrência da morte. Deitei-me com os meus membros esticados e duros como se estivesse a ocorrer o rigor mortis, e imitei um cadáver para tornar a inquirição mais realista. Prendi a respiração e mantive os lábios firmemente fechados a fim de não deixar escapar nenhum som, de maneira que nem mesmo a palavra “eu” ou qualquer outra palavra pudesse ser pronunciada. ‘Então’, disse a mim mesmo:


‘este corpo está morto. Ele vai ser carregado duro até à pira de fogo e lá será queimado e reduzido a cinzas. Mas com a morte deste corpo eu morro? Este corpo é o Eu? Ele está silencioso e inerte, mas eu sinto a força total da minha existência, e até mesmo a voz do “eu” dentro de mim, separadas do corpo. Então eu sou o espírito que transcende o corpo. O corpo morre, mas o Espírito que o transcende não pode ser tocado pela morte. Isto significa que eu sou o Espírito Imortal’.


Isto tudo não foi um pensamento obscuro; foi uma verdade viva que brilhou através de mim e que percebi directamente, quase sem o processo do pensamento. ‘Eu’ era algo muito real, a única coisa real no meu estado presente, e todas as actividades conscientes ligadas ao meu corpo estavam centradas naquele ‘Eu’. A partir daquele momento o ‘Eu’ ou ‘Si-mesmo’ focou a atenção em si mesmo por meio de uma poderosa fascinação. O medo da morte desapareceu de vez, e a absorção no Eu Real continuou ininterrupta desde então.”


Neste momento a sua individualidade dissolveu-se no Eu Real, e aquele jovem indiano que nada tinha de promissor transforma-se num dos maiores Sábios que a Índia alguma vez já conheceu. Na terminologia espiritual, ele havia “Realizado o Eu”, ou “Alcançado a Iluminação/Libertação”; o que normalmente surge apenas como resultado de anos de intensa prática espiritual (sadhana), para o jovem Sábio surgiu espontaneamente, sem nenhuma prática ou desejo prévios.



Movido por um chamado interior, Venkataraman abandona os seus estudos e sua vida em sociedade, e parte rumo a Tiruvannamalai, a cidade em que se situa a lendária montanha de Arunachala.



Chegando ao seu destino, o garoto iluminado deita fora todo o seu dinheiro e posses, e entrega-se a desfrutar profundamente o estado de Paz e Beatitude recém descoberto. A sua absorção nesta Consciência era tão profunda que ele permanecia desligado do seu corpo e de todo o mundo exterior por dias a fio. Durante os dois ou três anos em que permaneceu imerso neste profundo estado de samadhi (transe), mosquitos e escorpiões comiam parte do seu corpo, seu cabelo e unhas cresceram enormemente, sendo que se alimentava apenas quando um transeunte apiedado com o estado deplorável do seu corpo lhe oferecia algo para ingestão. No final deste período Venkataraman começou aos poucos a retomar a sua vida física normal – transição esta que se completou apenas alguns anos depois – mas sem nunca perder a consciência do seu verdadeiro Eu.



Há medida que o jovem Sábio foi retomando consciência do mundo exterior, passou a irradiar uma aura de Paz que começou a atrair buscadores interessados em beneficiar de sua presença. Em seus primeiros anos Venkataraman permanecia em completo silêncio, sendo que eventuais perguntas de buscadores que o visitavam ou moravam em sua proximidade eram respondidas sendo escritas em pedaços de papel ou na areia. Naquela época, um de seus primeiros seguidores, impressionado pela sabedoria e santidade daquele garoto, deu-lhe o nome de Bhagavan Sri Ramana Maharshi, pelo o qual passou a ser conhecido desde então. “Bhagavan” é um título honorífico dado a grandes mestres iluminados, significando “Senhor; Deus”; “Sri” é um prefixo de respeito; “Ramana” é uma contracção de seu nome de baptismo; “Maharshi” significa “Grande Sábio”.



Mesmo depois de vários anos, quando Sri Ramana voltou a falar, falava muito pouco, de forma que seus ensinamentos eram transmitidos por outros meios. Ao invés de dar instruções verbais ele constantemente emanava uma força silenciosa que aquietava as mentes daqueles que estavam em sintonia com ela, e ocasionalmente até mesmo lhe davam uma experiência directa do estado no qual ele mesmo estava perpetuamente imerso. Anos depois ele tornou-se mais disposto a dar ensinamentos verbais, mas, mesmo então, os ensinamentos silenciosos sempre estavam à disposição daqueles que sabia fazer bom uso deles. Ao longo de sua vida Sri Ramana insistia que esse fluxo silencioso de energia representavam os seus ensinamentos na sua forma mais directa e concentrada. A importância que ele dava a isto é indicada por suas assertivas frequentes no sentido de que os seus ensinamentos verbais serviam apenas àqueles que não podiam compreender seu silêncio.



Há medida que os anos passaram ele tornou-se cada vez mais famoso. Uma comunidade cresceu em volta dele, milhares de visitantes vinham vê-lo, e durante os últimos vinte anos de sua vida ele era largamente conhecido como o Santo mais popular e reverenciado da Índia. Alguns desses milhares eram atraídos pela paz que eles sentiam em sua presença, outros pela propriedade com a qual ele guiava buscadores espirituais e interpretava ensinamentos religiosos, e outros simplesmente vinham falar dos seus problemas e sofrimentos. Qualquer que fosse as razões, praticamente todos que tinham contacto com ele saiam impressionados com a sua simplicidade e humildade. Quando uma vez o então presidente da Índia prestou uma visita a Mahatma Gandhi, este disse-lhe “se tu estás em busca da Paz, sugiro que visites Ramana Maharshi.”

Bhagavan estava disponível aos visitantes vinte e quatro horas por dia, uma vez que dormia e vivia num espaço comunitário, o qual estava sempre acessível a todos, e seus únicos bens eram a sua roupa do corpo, um pote de água, e a sua bengala. Embora fosse adorado por milhares como uma encarnação divina, ele se recusava a permitir que qualquer um o tratasse como alguém especial, e recusava receber qualquer coisa que não fosse igualmente dividia entre todos à sua volta. Sri Ramana trabalhava junto na sua comunidade e por muitos anos acordava diariamente às 3:00 da manhã para preparar comida aos residentes no ashram. O seu sentimento de igualdade era legendário. Os visitantes eram todos tratados com respeito e consideração iguais, fossem eles mendigos, executivos, membros da realeza, ou animais. A sua preocupação igualitária se estendia até mesmo às árvores locais: ele desencorajava os seus seguidores a arrancarem flores ou folhas das árvores, e buscava assegurar-se que toda e qualquer fruta que fosse retirada das árvores o fosse feito da maneira que a árvore sofresse apenas a quantidade mínima de dor.



Assim, ao longo de mais de 50 anos, vivendo aos pés da montanha de Arunachala, Sri Ramana deu ensinamentos e transformou as vidas de inúmeros visitantes e buscadores. Boa parte dos seus ensinamentos foram anotados e publicados, constituindo assim uma herança espiritual inestimável para a humanidade, apontando um caminho directo e eficaz, acessível a todos aqueles que desejem alcançar o estado de Liberdade do qual tais ensinamentos emanaram.



Sri Ramana Maharshi deixou o corpo físico em 14 de Abril de 1950, padecendo de cancro. Em nenhum momento, entretanto, demonstrou qualquer espécie de preocupação ou aflição com a grande dor física que o seu corpo sofreu nos últimos anos, ou com a perda do mesmo, permanecendo sempre com o mesmo olhar imerso em Paz.

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