quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Papaji -Bibliografia traduzida e interpretada a partir do texto da introdução do livro The Fire of Freedom



Papaji (H.W.L. Poonja)

(1913-1997)


Hariwansh Lal Poonja nasceu em 1913, perto de Lyalpur, uma cidade que ficava na Índia mas que, em 1947, passou a fazer parte do Paquistão. Em 1919 a familia Poonja vez uma viagem para Lahore, e foi lá que Hariwansh teve sua primeira grande experiência de despertar espiritual. Espontaneamente Hariwansh teve uma experiência direta do Eu Real, tornando-se paralizado. Permaneceu incapaz de mover-se ou falar, ficando absorto neste estado por três dias. Hariwansh descreu essa experiência como uma experiência de pura felicidade e beleza. Uma vez que teve esse contato com a felicidade do Eu Real ele passou muito de seus anos seguintes tentando experimentar esse estado novamente, sendo ocasionalmente puxado de volta para o mesmo, espontaneamente.



Sua mãe, que era uma ardente devota de Krishna, convenceu-lhe que a devoção a Krishna lhe devolveria o estado de felicidade. Seguindo seu conselho, Hariwansh começou a concentrar-se em Krishna com tanta intensidade que a forma física deste passou a aparecer na sua frente, de maneira tão sólida que ele poderia tocá-la. Embora mais ninguém na família pudesse ver Krishna, todos eles viam Hariwansh brincar com o seu amigo “invisível”. Hariwansh tornou-se tão apegado à forma de Krishna, que por muitos anos o seu principal desejo espiritual era que Krishna aparecesse a fim de que ele pudesse usufruiu da beatitude de estar na presença da divindade.



Hariwansh era o filho mais velho da família. Quando ela tinha 16 anos, passou pelo tradicional casamento arranjado e começou a trabalhar como comerciante, pois seu pai não tinha dinheiro para lhe mandar para o ensino médio. Seu trabalho o levou a Bombaim, quando ele passou boa parte dos anos de 1930, ganhando dinheiro suficiente para sustentar sua esposa e filhos, e também outros membros de sua família, que viviam em Lyalpur.



No início da década de 1940 Hariwansh inscreveu-se para ser um oficial no exército britânico. Ele acreditava que os combatentes pela liberdade indiana dos anos 20 e 30 haviam falhado porque não tinham o treinamento militar adequado. Assim, apresentando-se para lutar pelos ingleses na Segunda Guerra ele pretendia obter um treinamento militar adequado a fim de posteriormente lutar contra a ocupação britância em seu país. Durante todos os seus anos como membro do exército e como homem casado trabalhado em Bombaim, Hariwansh nunca abandonou seu amor por Krishna ou o desejo de ter visões dele. Com o tempo, percebendo que o serviço militar era incompatível com seu estilo de vida, ele abandonou a comissão de que participava a fim de encontrar um Guru que lhe ajudasse a ver Krishna o tempo todo.



Sua busca o levou por toda a India, inclusive o fez visitar alguns dos mais famosos mestres da época, mas nenhum deles conseguiu responder-lhe satisfatoriamente a sua pergunta padrão “Você já viu Deus? Senão, conhece alguém que O tenha visto?”. Depois de muitos fracassos, um tempo após retornar para casa, um sadhu [monge mendicante] apareceu em sua porta de casa em Lyalpur, mendicando. Hariwansh o fez a mesma pergunta de sempre. O sadhu respondeu “Sim, eu conheço uma pessoa que pode lhe mostrar Deus. Se você o visitar, tudo estará bem para você. Seu nome é Ramana Maharshi”. Hariwansh informou-se com o sadhu e descobriu que Ramana Maharshi vivia em Tiruvannamalai, no sul da Índia. Como ele já havia gasto todo o seu tinheiro nas suas viagens anteriores à busca de um Guru, ele financiou sua presente jornada conseguindo um emprego de uma empresa que ficava em Madras, uma cidade a poucas horas de distância de Tiruvannamalai.



Quando ele chegou no ashram de Ramana Maharshi, em 1944, ele descobriu, para a sua frustração, que Ramana Maharshi era a mesma pessoa que apareceu para ele, como um sadhu, em Lyalpur. Sentindo-se enganado, ele estava prestes a deixar o ashram quando foi informado, por um devoto que lá residia, que Ramana Maharshi jamais havia deixado Tiruvannamalai nos últimos 50 anos. Intrigado, ele decidiu ficar.



A primeira vez que ele falou com Ramana Maharshi ele perguntou “você é o homem que apareceu para mim na minha casa em Punjab?”, mas Sri Ramana permaneceu em silêncio. Então ele perguntou “Você já viu Deus? Caso positivo, pode mostrá-Lo para mim?”. O Maharshi respondeu: “Eu não posso lhe mostrar Deus porque Deus não é um objeto a ser visto. Deus é o sujeito. Ele é aquele que vê. Não se preocupe com aquilo que é visto. Descubra quem é aquele que vê.” E acrescentou: “Apenas você é Deus”.



Muito embora Hariwansh não estivesse disposto a seguir tal conselho, ele permaneceu no ashram por tempo suficiente para ter uma experiência transformadora na presença de Sri Ramana. Assim ele a descreve:



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Suas palavras não me impressionaram. Elas me pareceram mais uma desculpa na longa lista daquelas que eu já havia ouvidos de diversos swamis em todo o país. Ele me prometou mostrar me Deus [quando apareceu em minha casa em Punjab], mas agora ele diz que não apenas não pode me mostrar Deus, como que ninguém pode. Eu o teria abandonado imediatamente sem pensar duas vezes, se não fosse pela experiência que eu tive imediatamente após ele me dizer para descobrir quem era o “eu” que queria ver Deus. Ao concluir as suas palavras ele olhou para mim, e na medida em que ele olhou profundamente em meus olhos, todo o meu corpo começou a tremer. Uma vibração de energia nervosa atravessou meu corpo. Sentia como se minhas terminações nervosas estivesses dançando, e meus pêlos se arrepiaram. Tornei-me consciênte do Coração espiritual dentro de mim. Este não é o coração físico. É, isto sim, a fonte e apoio de tudo o que existe. Dentro do coração eu senti ou vi algo como um botão de flor fechado. Ele era brilhante e azulado. Com o Maharshi me olhando e eu em um estado de silêncio interior, senti esse botão abrir-se e florescer. Eu uso a palavra “botão”, mas essa não é uma descrição exata. Seria mais correto dizer que also que parecia um botão abriu e floresceu em meu Coração.





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Apesar de tal experiência, Hariwansh decidiu que os ensinamentos de Sri Ramana não eram para ele. Então foi para o outro lado de Arunachala e continuou suas meditações em Krishna. Krishna apareceu para ele inúmeras vezes.



Antes de retornar para Madras, decidiu parar no Sri Ramanasramam e ver o Bhagavan mais uma vez. Hariwansh disse novamente que tinha visões constantes de Krishna. Sri Ramana perguntou: “Você o vê neste momento?” Não, respondeu o devoto. “Então qual é a utilidade de uma divindade que surge e desaparece? Se ele é um Deus real, ele deve estar contigo o tempo todo.”, retorqui o mestre.



Hariwansh retornou para Madras para começar seu trabalho novo. Ele intensificou sua prática de repetir o nome de Krishna, coordenando-a com sua respiração, até que chegou em um estágio em que repetia o mantra de Krishna 50.000 vezes todo o dia. Então, de uma forma surpreendente, os deuses Ram, Sita e Lakshman apareceu na sua frente em sua casa em Madras, e ali passaram durante toda a noite, enquanto Hariwansh passou atirado a seus pés, em um estado em que perdera a noção de tempo. Depois que as divindades o deixaram, ele sentiu-se incapaz de continuar com a repetição dos mantras. Perpexo com esse novo desenvolvimento em sua prática, dedidiu retornar ao Ramanasramam para explicar seu predicado ao Maharshi. Lá chegando ele detalha o que ocorreu ao Guru, e Sri Ramana responde lhe dizendo que a sua prática foi como um trem que o levou ao seu destino. Assim Hariwansh descreve o encontro:



Sri Ramana disse: “O trem [de Madras a Tiruvannamalai] o trouxe até sua destinação. Você desceu dele porque não mais prescisava do veículo. Ele já o trouxe ao local que você queria chegar... É isso que ocorreu com a sua prática. Seu japa [repetição do nome de Deus], suas leituras, sua meditação, trouxeram-lhe a sua destinação espiritual. Você não mais precisa delas. Você não as abandonou: as práticas o deixaram por si só porque elas alcançaram seu propósito. Você chegou.”



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Então ele me olhou atentamente. Eu conseguia sentir que todo o meu corpo e mente estão sendo lavados com ondas de pureza. Eles estavam sendo purificados pelo seu olhar silencioso. Eu sentia ele olhando diretamente para o meu coração. Sob o efeito daquele olhar encantador senti cada átomo do meu corpo sendo purificado. Era como se um novo corpo estivesse sendo criado para mim. Um processo de transformação estava ocorrendo – o velho corpo estava morrendo, átomo por átomo, e o novo corpo estava sendo criado no seu lugar. Então, repentinamente, eu entendi. Compreendi que este homem com quem havia falado era, na realidade, o meu verdadeiro Ser, aquilo que sempre fui. Ocorreu um súbito reconhecimento, na medida em que tornei-me consciente do Eu Real. Eu uso a palavra “reconhecimento” propositadamente uma vez que eu sabia, assim que essa experiência me foi revelada, que este era o mesmo estado de paz e felicidade no qual eu tinha ficado absorto quando era um garoto de seis anos de idade em Lahore. O olhar silencioso do Maharshi reestabelecu em mim este estado original. O desejo de buscar um Deus externo desapareceu sob a luz do conhecimento do Eu Real, que o Maharshi me relevou. (...) Eu sabia que minha busca espiritual havia terminado.







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Hariwansh voltou a Madras e retomou seu trabalho, visitando o Ramanasramam sempre que possível.



Em 1950, depois de Sri Ramana ter falecido, Hariwansh foi a Tiruvannamalai com a intenção de viver lá como um sadhu. Mas o destino tinha outros planos para ele. Após uma breve visita ao Sri Ramanasramam, ele viajou a Bangalore, onde lhe foi oferecido um trabalho como gerente de uma companhia de mineração. Ele o aceitou, principalmente para ter os recursos para sustentar sua família. Trabalhou em inúmeras minas em Karnataka e Goa até o ano de 1966, quando se aposentou.



Assim que abandonou seu emprego, Hariwansh começou a viajar por toda a Índia. Muito embora nunca tenha anunciado a si mesmo como um mestre, ele sempre atraiu um pequeno número de devotos onde quer que fosse. Esses números gradualmente começaram a crescer. Entre 1970 e 1990 viajou extensamente, tanto dentro da Índia como fora, sendo a maioria das viagens feitas a pedido dos devodos que queriam vê-lo. Ele resistiu a todas as tentativas de fundarem um centro ou ashram em seu nome.



Embora tenha visitado praticamente todos os principais centros espirituais da Índia e muitos no Ocidente, ao ser questionado sobre quantos jnanis (seres Iluminados) Papaji havia encontrado, mencionava: Ramana Maharshi, um sufi que havia encontrado em Madras, um mahatma que havia encontrado na floresta entre Tiruvannamalai e Bangalore, e Nisargadatta Maharaj. David Godman, seu biógrafo oficial, refere que a “lista de iluminados” podia expandir ou diminuir de acordo com os “humores” do mestre, mas que nunca excedia a sete pessoas.



No final de década de 80, quando a debilidade física o previniu de viajar sozinho, ele estabeleceu-se em Lucknow. Foi lá que ele permaneceu os últimos anos de sua vida, dando satsangs diários, e ocasionalmente viajando para breves visitas ao Ganga. Foi por volta de 1990 que ele recebeu o título de “Papaji”, significando “pai respeitado”. Faleceu em setembro de 1997.

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