quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Tony Parsons - Outra possibilidade




Parece que você está lendo essas palavras, possivelmente sentado em uma cadeira, respirando, ouvindo e talvez pensando. O que está acontecendo está acontecendo com você... aparentemente. E você é um indivíduo em um mundo cheio de indivíduos. Isso é normal, assim parece. Há pessoas e a vida acontece para elas.



A vida está acontecendo e, aparentemente, as pessoas fazem escolhas, a fim de lidar com a vida. Tentam fazer sua vida funcionar. Parece que há vários modos das pessoas negociarem com a vida... às vezes superficialmente e, às vezes, mais profundamente. Mas as respostas parecem ser geradas fora da nossa livre vontade e escolha pessoal que, em termos simples, evita a dor e busca prazer e realização pessoal. Acredita-se que as pessoas têm a capacidade de influenciar, até certo ponto, o que acontece em suas vidas.



E sobre a possibilidade do além ser uma ilusão? Como você se sentirá se te for sugerido que você não está lendo estas palavras, sentado, respirando ou pensando? É possível que a leitura destas palavras, sentado, respirando e pensando seja tudo o que acontece, simplesmente. Não há ninguém fazendo nada. É mesmo possível que não haja ninguém e que haja apenas o espaço em que as coisas parecem acontecer?

E sobre a possibilidade desta auto-surgida individualidade, que se sente tão no controle, ser, na verdade, uma simulação?



Neurocientistas de todo o mundo descobriram recentemente que o cérebro, como se desenvolve desde a primeira infância, supõe que o mundo fora do corpo é separado, e possivelmente ameaçador ao organismo no qual ele vive. E a fim de proteger-se, aparentemente, simula um centro ou um ser a partir do qual as negociações e controle possam ser representados. Obviamente este indivíduo simulado pareceria ter livre arbítrio, poder de escolha e capacidade de agir. E tudo isso para poder lidar com um mundo que se presume ser separado. Mas existe um mundo separado? Ou é uma simulação de individualidade gerada a partir de uma premissa falsa?



É este aparente auto-nascimento para fora um equívoco “divino”, que, por consequência, é a mãe de uma série de outros equívocos “divinos”, para poder o indivíduo, junto com outros, em seu aparente auto-surgimento, também vir a acreditar e experimentar o que percebe como a realidade do tempo e do espaço, o propósito, o destino e mesmo a divindade? E todas essas hipóteses parecem criar uma história pessoal no tempo que normalmente envolve um tipo ou outro de busca.



Além deste senso de separação também parece surgir uma insatisfação inerente. Uma sensação de perda de algo, a separação de algo profundamente inerente, indefinível. E este descontentamento subjacente gera uma necessidade de alívio ou solução.



É possível que toda essa estória de separação seja apenas a totalidade - aparecendo como algo aparentemente separado da totalidade - buscando plenitude. E porque a natureza da individualidade é encerrar-se em uma estória aparentemente separada no tempo, ela só pode funcionar a partir desta perspectiva pessoal, dentro das limitações de seus próprios esforços para encontrar algo para si mesmo, incluindo a realização espiritual. Daí a atração por caminhos, fórmulas, métodos e ensinamentos sobre o vir a ser, que prometem ao candidato uma realização pessoal.



Os candidatos se sentem como algo no todo e por isso sua busca por iluminação se torna uma busca por algo que eles possam adquirir e possuir. E quanto mais o candidato se esforça por agarrar, possuir aquilo que não pode ser possuído, mais ele reforça a sua sensação de perda e desesperança.



Talvez toda a história da separação seja apenas e simplesmente uma metáfora que aponta para outra possibilidade. E supondo que de repente toda esta construção individual pudesse evaporar e houvesse apenas o vazio? Poderia o vazio, como um vácuo, de repente ser a plenitude absoluta? A plenitude absoluta que é o todo... um maravilhoso e indescritível amor que é incondicional. E poderia haver a realização de que toda essa busca, ânsia e luta também já é a absoluta plenitude... um amor todo-abrangente. E que o amor que temos desejado nunca nos deixou, mas sempre cantou para nós através dos nossos sentidos e em cada parte da vitalidade que está acontecendo... lendo estas palavras, sentando-se, respirando, ouvindo, sentindo e pensando. Isso, como é, é tudo que é.



Aqui está a essência desta mensagem radical e intransigente, que é de ninguém.



Tony Parsons

Maio 2009

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